quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo 3 – O início de tudo

      Louise chegou em casa e foi logo contando da novidade. Na verdade era novidade pra ela e pra Sophie, pois seus pais já sabiam.
         - Mãe, quem teve a ideia de escolher a Califórnia? Você ou o papai?
         - Bom, nós dois nos lembramos de Hollywood. Realmente esperamos que você consiga algo lá! Mais tarde nós vamos conhecer a família que vai te adotar.
         - Eu queria tanto saber. Mas a professora já falou que eu não posso. – disse ela, fazendo um certo drama.
         - É, vai ser melhor se for surpresa. Espero que essa família não tenha muitos animais de estimação. A outra tinha oito cachorros e três gatos! – disse Megan.
         - Uau! Eu ia ter ataque alérgico todos os dias.
         - Bom, vamos almoçar então? – chamou Conrad, que tinha acabado de sair de frente da TV, juntamente a Sophie.
        Ela sempre vê um desenho animado que dá exatamente quando ela chega da escola, então ela só vê o final, mas não se importa. Conrad assiste com ela todos os dias.
         - Vamos! To com muita fome mãe! Eu não consegui comer a maçã que você mandou pro lanche. – disse a pequena, apontando para os dentes.Ou melhor, para a falta dos deles.
        Todos na casa riram.
         - Ah, desculpa meu amor, eu esqueci. Mas eu também mandei aquele biscoito de leite que você gosta. Você não comeu?
         - Comi, mãe. Mas você acha que só aquilo me alimenta? To em fase de crescimento. – respondeu Sophie, fazendo todos rirem novamente.
        Os almoços da família Monroe eram sempre divertidos. Sophie sempre os fazia rir com suas histórias. Ela percebeu que ia sentir falta disso. E se a outra família não almoçasse junta? E se eles fossem sérios? Essas perguntas permaneceram em sua cabeça por algum tempo, até Sophie espirrar e jogar vários grãos de arroz (que vazaram pela famosa “janelinha”) em cima dela.
         - Eca! Que nojo! – falou Louise, mas ela não conseguiu se manter séria por muito tempo e começou a rir com o restante da família.

        Depois do almoço, Conrad descansou um pouco e voltou para o escritório. Louise voltou para a escola para o ensaio da peça. Sophie foi para o balé com a babá, e Megan foi para a redação do jornal.
        Essa era a rotina deles. Sophie e Louise quase não paravam em casa durante as tardes. A pequena fazia balé, natação e teatro. E Louise fazia aulas de teatro, canto, dança, frequentava a acaKimberlya e, agora, tinha os ensaios da peça. A vida da família era muito corrida, e por isso precisavam de uma empregada e de uma babá para Sophie. Louise também teve uma durante a infância. Na verdade, era a mesma que toma conta de sua irmã agora, a Nancy.
        Quando ela começou a trabalhar para a família Monroe, Louise tinha apenas dois anos. Ela tinha vinte e seis, e sempre fora muito carinhosa. Era baixinha, magra, da pele branca e cabelos pretos, lisos e compridos. Tinha uma vida bem simples, e não era babá por falta de opção não; era o que ela realmente queria. Agora, ela estava com quarenta anos, mas sua paixão por crianças ainda era a mesma. Sophie adorava Nancy, e lamentava o fato da babá não ficar na casa dela o dia inteiro, pra fazê-la dormir, que nem as babás das amigas dela. Não que ela desgostasse da mãe, longe disso. Mas ela adorava Nancy de verdade.
        Os Conrad não queriam que as filhas crescessem sem a presença deles. Eles contrataram Nancy por praticidade e necessidade. Eles tinham que trabalhar, e precisavam de ajuda pra levar as filhas onde elas precisavam quando eles não podiam.
        Megan e Conrad chegavam em casa geralmente às seis da tarde, e depois disso, Nancy era dispensada. Sophie fazia balé nas Segundas e Quartas, de duas às quatro. E natação nas Terças e Quintas, no mesmo horário. Então Nancy a ajudava com a tarefa de casa depois que voltavam. Nas Sextas, ela fazia teatro, também de duas às quatro.
        Louise chegava mais tarde. Nas Segundas e Quartas, ela fazia aula de canto, de duas da tarde até as três, e dança, de três e quinze às cinco. Nas Terças e Quintas, ela fazia teatro, de duas da tarde até as cinco. Ela frequentava a acaKimberlya todos os dias. Não tinha nenhum horário fixo, mas ela sempre ia pouco depois de cinco e meia, já que os locais onde fazia suas aulas eram perto da acaKimberlya, e chegava em casa por volta das sete da noite.
       
         - Oi pessoal! – cumprimentou a loirinha assim que chegou ao ensaio. Ela tinha pegado carona com o pai, já que a escola é caminho para o trabalho dele.
        O elenco estava quase todo lá. Margaret Sparks, uma menina morena de cabelos castanhos, curtos e ondulados, ia interpretar Rose, a mãe de Louise. E Jennifer Moeller, uma menina branquinha, de cabelos pretos, lisos e curtos, iria interpretar June, a irmã de Louise. Essas eram as três protagonistas da peça: Louise, June e Rose.
         - Oi Louise! Que bom que você chegou. – falou Cadu. – Eu e os meninos estávamos ensaiando a coreografia aqui. Você já conseguiu decorar todas as suas falas?
         - Aham, consegui. Só tenho que treinar mais a música. Eu to desafinando em uma parte, tenho que treinar isso. – respondeu a loirinha. – Minha família da Califórnia vai sofrer!
         - Ah, a minha também. Não posso esquecer essa peça, quero que seja algo que todos lembrem. É a nossa última peça aqui, tem que ser histórica!
         - Bom, vamos lá então? – chamou Louise. – Margaret e Jennifer, vocês já decoraram todas as suas falas?
         - Bom, eu já decorei. Só to com um pouquinho de dificuldade na música. – respondeu Margaret. – Eu não sei cantar muito bem. Vou começar aulas de canto agora, lá onde você faz.
         - Sério?! Que legal! Bom, então nós vamos dar um jeito nisso logo! – disse Louise.  – E você Jennifer?
         - Bom, eu ainda não decorei tudo, mas falta pouca coisa. – respondeu a morena.
         - Tudo bem. Vamos lá então. – chamou a loirinha.
        Eles ficaram ensaiando até às cinco horas. Foi um ensaio bem produtivo e divertido. Depois, Louise foi para a acaKimberlya. E quando chegou em casa, estava muito cansada.
         - Boa noite, mãe. – falou a loirinha, dando um beijo na bochecha de Megan.
         - Boa noite, querida. E ai? Como foi o ensaio?
         - Ah, foi muito legal. Todos já estão com suas falas decoradas e estão realmente dedicados. Vocês já conheceram a família que vai me adotar?
Nesse momento, Conrad apareceu, abraçando a filha pela cintura.
         - Curiosa essa menina, né? – falou ele.
         - Pois é! – concordou Megan. – Sim, conhecemos. E temos certeza de que você vai gostar bastante.
         - Não podem nem dar uma dica de como eles são? – insistiu a loirinha.
         - Bom, eles são do tipo de pessoas que você gosta. – respondeu Conrad.
         - Ah, que bom...
         - Bom, vai tomar banho filha, o jantar já está quase pronto.
         - Tudo bem, to indo. Cadê a Sophie?
         - Ta vendo DVD no quarto. Aquelas coisas da Barbie que ela gosta. – disse Conrad.
         - Quando você descer do banho, trás ela por favor, filha. – pediu Megan.
         - Ta, tudo bem.
        Louise subiu para tomar banho, e ficou imaginando como seria sua família adotiva. Por mais que ela estivesse ansiosa para essa viagem, o medo e a tristeza eram inevitáveis. E se ela não gostasse de lá? Como ela ia fazer? E a sua família? Ela ia sentir saudades, com certeza. Tudo bem que ela iria voltar em Dezembro, para o festival. Mas e depois?
        “Bom Louise,”, pensou ela “nada de desistir. Você vai gostar de ficar lá e vai se dar bem. E de quebra, vai conseguir ver a Kimberly de novo.” Uns vinte minutos depois, Louise desceu, carregando Sophie nas costas. Ela ia sentir muita falta da irmã.
        Durante o jantar, Louise ficou tentando arrancar mais informações dos pais. Mas eles estavam dispostos a deixá-la muito curiosa, então ela logo desistiu de questioná-los. Assim que acabou de comer, Louise foi escovar os dentes, e depois foi ensaiar as músicas que ia ter que cantar na peça.
        Quando eram mais ou menos nove e meia, ela foi para o quarto dos pais ver um programa de TV que eles sempre viam juntos. Era uma série cômica, que eles adoravam. Sophie sempre dormia antes de acabar. E dessa vez, não foi diferente. Quando acabou, Louise se despediu dos pais e foi para seu quarto, enquanto Conrad levava a mais nova para seu quarto.
        Na manhã seguinte, Louise acordou meio indisposta, com dor no corpo e um pouco de febre.
         - Filha, ta na hora de acordar. – disse Megan, abrindo as cortinas do quarto.
         - Mãe, eu não to me sentindo muito bem...
         - Sério? O que você tem? – perguntou, ao mesmo tempo em que colocava as mãos na testa da filha. – Nossa, você está com febre... Deve ter sido a friagem que você pegou ontem enquanto voltava da academia.
        Louise apenas confirmou com a cabeça e colocou o travesseiro na frente do rosto, demonstrando que a claridade a estava incomodando. Megan entendeu o recado e foi logo fechar as cortinas.
         - Bom, vou avisar a Nancy que você vai ficar em casa e vou pedi-la pra vir mais cedo, pra ela vigiar você.
         - Não precisa, mãe. Eu tenho dezesseis anos, acho que consigo me virar sozinha. E eu acho que não é nada grave. Vai dar pra ir à aula de teatro, não vai?
        Louise odiava perder as aulas de teatro, porque ela realmente se divertia lá.
         - Mas filha, você não ta bem...
         - É só você me dar um remédio agora que de tarde eu já vou estar melhor. Por favor, mãe.
         - Só se você estiver sem febre.
        Louise comemorou. Tomou o remédio que a mãe mandou, e ficou deitava durante toda a manhã. Jane, a empregada da família, levou o café-da-manhã para a loirinha no quarto.
         - Jane, Jane, querida Jane. Sempre tão gentil! – disse. – Não precisava disso tudo!
         - Que isso! Sua mãe disse que você estava indisposta, então imaginei que você não fosse descer. Mas ficar sem comer? Nem pensar!
         - Haha. Tudo bem. Pode deixar que eu vou comer tudo sim.
         - Qualquer coisa é só chamar, ta? Vou estar lá na cozinha.
         - Tudo bem. Mas não precisa se preocupar não. Eu to legal.
        Quando deu mais ou menos dez horas da manhã, Louise tentou levantar, mas o mais longe que conseguiu chegar, foi no sofá da sala. Ela deitou lá e ficou assistindo TV. Não demorou muito para o seu celular tocar.
         - Alô.
         - Alô, amiga por que você não veio pra escola? – perguntou Julie.
         - Ah, eu acordei meio indisposta, com febre... Achei melhor ficar em casa.
         - Mas é alguma coisa grave?
         - Não. Deve ser só uma gripe. Perdi alguma coisa importante?
         - Não. Os professores estão mais animados com a nossa viagem do que nós mesmos. Acho que é porque eles vão trabalhar menos!
         Louise riu.
         - É. Deve ser.
         - Tem certeza que ta tudo bem?
         - Aham, tenho sim. Acho que até vou pra aula de teatro.
         - Bom, tudo bem então. Só liguei pra saber por que você tinha faltado.
         - Obrigada por se preocupar, amiga! Beijos.
         - Beijos. Melhoras!
         - Obrigada.
        Nancy chegou pouco antes de Sophie chegar da escola.
         - Olá Louise, por que você não foi à escola hoje? – perguntou Nancy, assim que entrou na casa.
         - Ah, oi Nancy. Eu não acordei muito bem, sabe?
         - Mas você já ta melhor?
         - To sim. Obrigada por perguntar! Chegou mais cedo hoje!
         - Pois é. Eu tive que passar no banco, achei que a fila fosse estar enorme, mas não tava. Mas eu resolvi vir direto pra cá! Ansiosa com a viagem?
         - Muito! Mas eu to com um pouquinho de medo, sabe?
         - Medo? Você vai para a Califórnia, meu bem! Ai de você se nós não te vermos em algum programa de TV. Nem que seja uma pequena participação!
        Louise riu. Mas o medo ainda estava presente em seu rosto. Nancy sentiu que devia fazer algo, então se sentou perto de Louise e começou a conversar com ela.
         - Olha querida, você não tem que encarar isso como uma coisa ruim. Muito pelo contrário. É uma oportunidade que a escola está dando a vocês. Oportunidade muito boa, eu diria. Sabe, eu moro no Texas desde que eu nasci, e nunca sai do meu estado, acredita? E sabe, não é nenhum monstro de sete cabeças. Seus pais estão felizes por você. Mesmo. E estão ainda mais depois que conheceram a família que vai te adotar. Parece que é uma família muito legal mesmo. Então você tem mais é que aproveitar. Claro que vai haver saudade, mas você não vai ficar lá pra sempre. Então, curta o momento!
         - Sabe, você tem razão Nancy! E agora eu to mais curiosa ainda pra conhecer essa família!
       
        Naquele dia, Louise não foi ao teatro, nem à acaKimberlya. Ela não tinha melhorado, então Megan a levou ao médico.
         - Bom, não é nada grave. – disse o médico. – O que a Louise tem é um resfriado forte. Nada que uma vitamina C, bastante líquido e repouso não cure. Em no máximo três dias ela já vai estar bem. Até lá, é bom que ela evite esforço, e isso inclui a escola. Como hoje já é terça, acho melhor ela tirar o resto da semana de folga.
        Louise não gostou muito de ouvir isso, mas achou que pudesse conversar com a mãe quanto os ensaios do musical.
        Já estava quase na hora da janta, e Megan achou melhor nem voltar ao trabalho. Apenas ligou, explicou que sua filha estava doente e eles disseram que estava tudo bem.
       
        Assim que terminou o jantar, todos foram dormir. Sophie estava exausta por causa da natação, e não demorou a cair no sono. Megan também estava cansada, e logo que a pequena dormiu, foi para seu quarto, onde Conrad já estava dormindo. Louise estava ansiosa com a viagem. Começou a pensar no que Nancy havia falado pra ela. Mas logo adormeceu também.