quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo 3 – O início de tudo

      Louise chegou em casa e foi logo contando da novidade. Na verdade era novidade pra ela e pra Sophie, pois seus pais já sabiam.
         - Mãe, quem teve a ideia de escolher a Califórnia? Você ou o papai?
         - Bom, nós dois nos lembramos de Hollywood. Realmente esperamos que você consiga algo lá! Mais tarde nós vamos conhecer a família que vai te adotar.
         - Eu queria tanto saber. Mas a professora já falou que eu não posso. – disse ela, fazendo um certo drama.
         - É, vai ser melhor se for surpresa. Espero que essa família não tenha muitos animais de estimação. A outra tinha oito cachorros e três gatos! – disse Megan.
         - Uau! Eu ia ter ataque alérgico todos os dias.
         - Bom, vamos almoçar então? – chamou Conrad, que tinha acabado de sair de frente da TV, juntamente a Sophie.
        Ela sempre vê um desenho animado que dá exatamente quando ela chega da escola, então ela só vê o final, mas não se importa. Conrad assiste com ela todos os dias.
         - Vamos! To com muita fome mãe! Eu não consegui comer a maçã que você mandou pro lanche. – disse a pequena, apontando para os dentes.Ou melhor, para a falta dos deles.
        Todos na casa riram.
         - Ah, desculpa meu amor, eu esqueci. Mas eu também mandei aquele biscoito de leite que você gosta. Você não comeu?
         - Comi, mãe. Mas você acha que só aquilo me alimenta? To em fase de crescimento. – respondeu Sophie, fazendo todos rirem novamente.
        Os almoços da família Monroe eram sempre divertidos. Sophie sempre os fazia rir com suas histórias. Ela percebeu que ia sentir falta disso. E se a outra família não almoçasse junta? E se eles fossem sérios? Essas perguntas permaneceram em sua cabeça por algum tempo, até Sophie espirrar e jogar vários grãos de arroz (que vazaram pela famosa “janelinha”) em cima dela.
         - Eca! Que nojo! – falou Louise, mas ela não conseguiu se manter séria por muito tempo e começou a rir com o restante da família.

        Depois do almoço, Conrad descansou um pouco e voltou para o escritório. Louise voltou para a escola para o ensaio da peça. Sophie foi para o balé com a babá, e Megan foi para a redação do jornal.
        Essa era a rotina deles. Sophie e Louise quase não paravam em casa durante as tardes. A pequena fazia balé, natação e teatro. E Louise fazia aulas de teatro, canto, dança, frequentava a acaKimberlya e, agora, tinha os ensaios da peça. A vida da família era muito corrida, e por isso precisavam de uma empregada e de uma babá para Sophie. Louise também teve uma durante a infância. Na verdade, era a mesma que toma conta de sua irmã agora, a Nancy.
        Quando ela começou a trabalhar para a família Monroe, Louise tinha apenas dois anos. Ela tinha vinte e seis, e sempre fora muito carinhosa. Era baixinha, magra, da pele branca e cabelos pretos, lisos e compridos. Tinha uma vida bem simples, e não era babá por falta de opção não; era o que ela realmente queria. Agora, ela estava com quarenta anos, mas sua paixão por crianças ainda era a mesma. Sophie adorava Nancy, e lamentava o fato da babá não ficar na casa dela o dia inteiro, pra fazê-la dormir, que nem as babás das amigas dela. Não que ela desgostasse da mãe, longe disso. Mas ela adorava Nancy de verdade.
        Os Conrad não queriam que as filhas crescessem sem a presença deles. Eles contrataram Nancy por praticidade e necessidade. Eles tinham que trabalhar, e precisavam de ajuda pra levar as filhas onde elas precisavam quando eles não podiam.
        Megan e Conrad chegavam em casa geralmente às seis da tarde, e depois disso, Nancy era dispensada. Sophie fazia balé nas Segundas e Quartas, de duas às quatro. E natação nas Terças e Quintas, no mesmo horário. Então Nancy a ajudava com a tarefa de casa depois que voltavam. Nas Sextas, ela fazia teatro, também de duas às quatro.
        Louise chegava mais tarde. Nas Segundas e Quartas, ela fazia aula de canto, de duas da tarde até as três, e dança, de três e quinze às cinco. Nas Terças e Quintas, ela fazia teatro, de duas da tarde até as cinco. Ela frequentava a acaKimberlya todos os dias. Não tinha nenhum horário fixo, mas ela sempre ia pouco depois de cinco e meia, já que os locais onde fazia suas aulas eram perto da acaKimberlya, e chegava em casa por volta das sete da noite.
       
         - Oi pessoal! – cumprimentou a loirinha assim que chegou ao ensaio. Ela tinha pegado carona com o pai, já que a escola é caminho para o trabalho dele.
        O elenco estava quase todo lá. Margaret Sparks, uma menina morena de cabelos castanhos, curtos e ondulados, ia interpretar Rose, a mãe de Louise. E Jennifer Moeller, uma menina branquinha, de cabelos pretos, lisos e curtos, iria interpretar June, a irmã de Louise. Essas eram as três protagonistas da peça: Louise, June e Rose.
         - Oi Louise! Que bom que você chegou. – falou Cadu. – Eu e os meninos estávamos ensaiando a coreografia aqui. Você já conseguiu decorar todas as suas falas?
         - Aham, consegui. Só tenho que treinar mais a música. Eu to desafinando em uma parte, tenho que treinar isso. – respondeu a loirinha. – Minha família da Califórnia vai sofrer!
         - Ah, a minha também. Não posso esquecer essa peça, quero que seja algo que todos lembrem. É a nossa última peça aqui, tem que ser histórica!
         - Bom, vamos lá então? – chamou Louise. – Margaret e Jennifer, vocês já decoraram todas as suas falas?
         - Bom, eu já decorei. Só to com um pouquinho de dificuldade na música. – respondeu Margaret. – Eu não sei cantar muito bem. Vou começar aulas de canto agora, lá onde você faz.
         - Sério?! Que legal! Bom, então nós vamos dar um jeito nisso logo! – disse Louise.  – E você Jennifer?
         - Bom, eu ainda não decorei tudo, mas falta pouca coisa. – respondeu a morena.
         - Tudo bem. Vamos lá então. – chamou a loirinha.
        Eles ficaram ensaiando até às cinco horas. Foi um ensaio bem produtivo e divertido. Depois, Louise foi para a acaKimberlya. E quando chegou em casa, estava muito cansada.
         - Boa noite, mãe. – falou a loirinha, dando um beijo na bochecha de Megan.
         - Boa noite, querida. E ai? Como foi o ensaio?
         - Ah, foi muito legal. Todos já estão com suas falas decoradas e estão realmente dedicados. Vocês já conheceram a família que vai me adotar?
Nesse momento, Conrad apareceu, abraçando a filha pela cintura.
         - Curiosa essa menina, né? – falou ele.
         - Pois é! – concordou Megan. – Sim, conhecemos. E temos certeza de que você vai gostar bastante.
         - Não podem nem dar uma dica de como eles são? – insistiu a loirinha.
         - Bom, eles são do tipo de pessoas que você gosta. – respondeu Conrad.
         - Ah, que bom...
         - Bom, vai tomar banho filha, o jantar já está quase pronto.
         - Tudo bem, to indo. Cadê a Sophie?
         - Ta vendo DVD no quarto. Aquelas coisas da Barbie que ela gosta. – disse Conrad.
         - Quando você descer do banho, trás ela por favor, filha. – pediu Megan.
         - Ta, tudo bem.
        Louise subiu para tomar banho, e ficou imaginando como seria sua família adotiva. Por mais que ela estivesse ansiosa para essa viagem, o medo e a tristeza eram inevitáveis. E se ela não gostasse de lá? Como ela ia fazer? E a sua família? Ela ia sentir saudades, com certeza. Tudo bem que ela iria voltar em Dezembro, para o festival. Mas e depois?
        “Bom Louise,”, pensou ela “nada de desistir. Você vai gostar de ficar lá e vai se dar bem. E de quebra, vai conseguir ver a Kimberly de novo.” Uns vinte minutos depois, Louise desceu, carregando Sophie nas costas. Ela ia sentir muita falta da irmã.
        Durante o jantar, Louise ficou tentando arrancar mais informações dos pais. Mas eles estavam dispostos a deixá-la muito curiosa, então ela logo desistiu de questioná-los. Assim que acabou de comer, Louise foi escovar os dentes, e depois foi ensaiar as músicas que ia ter que cantar na peça.
        Quando eram mais ou menos nove e meia, ela foi para o quarto dos pais ver um programa de TV que eles sempre viam juntos. Era uma série cômica, que eles adoravam. Sophie sempre dormia antes de acabar. E dessa vez, não foi diferente. Quando acabou, Louise se despediu dos pais e foi para seu quarto, enquanto Conrad levava a mais nova para seu quarto.
        Na manhã seguinte, Louise acordou meio indisposta, com dor no corpo e um pouco de febre.
         - Filha, ta na hora de acordar. – disse Megan, abrindo as cortinas do quarto.
         - Mãe, eu não to me sentindo muito bem...
         - Sério? O que você tem? – perguntou, ao mesmo tempo em que colocava as mãos na testa da filha. – Nossa, você está com febre... Deve ter sido a friagem que você pegou ontem enquanto voltava da academia.
        Louise apenas confirmou com a cabeça e colocou o travesseiro na frente do rosto, demonstrando que a claridade a estava incomodando. Megan entendeu o recado e foi logo fechar as cortinas.
         - Bom, vou avisar a Nancy que você vai ficar em casa e vou pedi-la pra vir mais cedo, pra ela vigiar você.
         - Não precisa, mãe. Eu tenho dezesseis anos, acho que consigo me virar sozinha. E eu acho que não é nada grave. Vai dar pra ir à aula de teatro, não vai?
        Louise odiava perder as aulas de teatro, porque ela realmente se divertia lá.
         - Mas filha, você não ta bem...
         - É só você me dar um remédio agora que de tarde eu já vou estar melhor. Por favor, mãe.
         - Só se você estiver sem febre.
        Louise comemorou. Tomou o remédio que a mãe mandou, e ficou deitava durante toda a manhã. Jane, a empregada da família, levou o café-da-manhã para a loirinha no quarto.
         - Jane, Jane, querida Jane. Sempre tão gentil! – disse. – Não precisava disso tudo!
         - Que isso! Sua mãe disse que você estava indisposta, então imaginei que você não fosse descer. Mas ficar sem comer? Nem pensar!
         - Haha. Tudo bem. Pode deixar que eu vou comer tudo sim.
         - Qualquer coisa é só chamar, ta? Vou estar lá na cozinha.
         - Tudo bem. Mas não precisa se preocupar não. Eu to legal.
        Quando deu mais ou menos dez horas da manhã, Louise tentou levantar, mas o mais longe que conseguiu chegar, foi no sofá da sala. Ela deitou lá e ficou assistindo TV. Não demorou muito para o seu celular tocar.
         - Alô.
         - Alô, amiga por que você não veio pra escola? – perguntou Julie.
         - Ah, eu acordei meio indisposta, com febre... Achei melhor ficar em casa.
         - Mas é alguma coisa grave?
         - Não. Deve ser só uma gripe. Perdi alguma coisa importante?
         - Não. Os professores estão mais animados com a nossa viagem do que nós mesmos. Acho que é porque eles vão trabalhar menos!
         Louise riu.
         - É. Deve ser.
         - Tem certeza que ta tudo bem?
         - Aham, tenho sim. Acho que até vou pra aula de teatro.
         - Bom, tudo bem então. Só liguei pra saber por que você tinha faltado.
         - Obrigada por se preocupar, amiga! Beijos.
         - Beijos. Melhoras!
         - Obrigada.
        Nancy chegou pouco antes de Sophie chegar da escola.
         - Olá Louise, por que você não foi à escola hoje? – perguntou Nancy, assim que entrou na casa.
         - Ah, oi Nancy. Eu não acordei muito bem, sabe?
         - Mas você já ta melhor?
         - To sim. Obrigada por perguntar! Chegou mais cedo hoje!
         - Pois é. Eu tive que passar no banco, achei que a fila fosse estar enorme, mas não tava. Mas eu resolvi vir direto pra cá! Ansiosa com a viagem?
         - Muito! Mas eu to com um pouquinho de medo, sabe?
         - Medo? Você vai para a Califórnia, meu bem! Ai de você se nós não te vermos em algum programa de TV. Nem que seja uma pequena participação!
        Louise riu. Mas o medo ainda estava presente em seu rosto. Nancy sentiu que devia fazer algo, então se sentou perto de Louise e começou a conversar com ela.
         - Olha querida, você não tem que encarar isso como uma coisa ruim. Muito pelo contrário. É uma oportunidade que a escola está dando a vocês. Oportunidade muito boa, eu diria. Sabe, eu moro no Texas desde que eu nasci, e nunca sai do meu estado, acredita? E sabe, não é nenhum monstro de sete cabeças. Seus pais estão felizes por você. Mesmo. E estão ainda mais depois que conheceram a família que vai te adotar. Parece que é uma família muito legal mesmo. Então você tem mais é que aproveitar. Claro que vai haver saudade, mas você não vai ficar lá pra sempre. Então, curta o momento!
         - Sabe, você tem razão Nancy! E agora eu to mais curiosa ainda pra conhecer essa família!
       
        Naquele dia, Louise não foi ao teatro, nem à acaKimberlya. Ela não tinha melhorado, então Megan a levou ao médico.
         - Bom, não é nada grave. – disse o médico. – O que a Louise tem é um resfriado forte. Nada que uma vitamina C, bastante líquido e repouso não cure. Em no máximo três dias ela já vai estar bem. Até lá, é bom que ela evite esforço, e isso inclui a escola. Como hoje já é terça, acho melhor ela tirar o resto da semana de folga.
        Louise não gostou muito de ouvir isso, mas achou que pudesse conversar com a mãe quanto os ensaios do musical.
        Já estava quase na hora da janta, e Megan achou melhor nem voltar ao trabalho. Apenas ligou, explicou que sua filha estava doente e eles disseram que estava tudo bem.
       
        Assim que terminou o jantar, todos foram dormir. Sophie estava exausta por causa da natação, e não demorou a cair no sono. Megan também estava cansada, e logo que a pequena dormiu, foi para seu quarto, onde Conrad já estava dormindo. Louise estava ansiosa com a viagem. Começou a pensar no que Nancy havia falado pra ela. Mas logo adormeceu também.

domingo, 20 de março de 2011

Capítulo 2 – A novidade

 - Meninas!! E ai? Se divertiram? – perguntou Megan assim que as meninas entraram em casa.
 Louise já tinha caído na real, e estava muito feliz com tudo que tinha acontecido.
 - Mãe, foi perfeito! Ela falou comigo, mãe. Comigo! Ta vendo esse anel? Era dela. Ela me deu ele.
 - Sério, filha? Ela falou mesmo com você? – Megan ficou feliz ao ver a expressão no rosto da filha.
 - Falou! Aah, foi um dos melhores dias da minha vida!
 - Que bom filha! O que importa é que você se divertiu! Estão cansadas? Com fome?
Já eram mais de uma hora da madrugada, mas o dia seguinte (na verdade, não era seguinte, já que já tinha passado da meia-noite) era Domingo, e as meninas poderiam acordar a qualquer hora.
 - To com fome não. A gente parou numa pizzaria antes. – respondeu Julie.
 - Ah, então ta bom. Vão subir pra dormir já? – perguntou Megan.
 - Bom mãe, nós vamos subir, mas não sei se vamos dormir tão rápido!
 - É, eu imaginei! Então tudo bem, podem subir, que eu e seu pai vamos dormir. A Sophie queria esperar vocês chegarem, mas ela não aguentou.
 - Tadinha! Amanhã eu conto tudo pra ela. Vamos lá, Julie?
 - Vamos! Boa Noite tia Meg, Boa Noite tio Conrad.
 - Boa noite Julie! – responderam os dois praticamente juntos.
         - Boa Noite, mãe. Boa noite, pai. – disse Louise, dando um beijo em cada um dos pais.
         - Boa noite, filha. Dorme com Deus. – responderam eles.
               
        No dia seguinte, Louise e Julie acordaram na hora do almoço.
         - Bom dia, amiga! – disse Julie, se espreguiçando.
         - Bom dia? Já deve ser quase “Boa Noite”. – disse Louise, fazendo a amiga rir.
         - To com fome. – reclamou Julie.
         - Sério? Agora me conta uma novidade... Eu vou tomar banho antes de descer. Se você quiser, pode ir descendo...
        O quarto de Louise era uma suíte, assim como todos os quartos da casa.
         - Não... Eu tenho que tomar banho também. Posso usar o banheiro do quarto da sua mãe?
         - Pode sim, acho que não tem ninguém lá, mas se tiver, vai pro da Sophie.
         - Ta, já volto.
        As duas não demoraram muito tempo no banho. Logo que elas acabaram de se arrumar, desceram para almoçar.
         - Boa tarde pessoas! – disse Louise
         - Maninha! – Sophie foi correndo pular no colo da irmã. – A Kimberly cantou bem ontem?
         - Cantou sim, linda. Muito bem! Foi muito legal o show.
         - Bom dia filha. – respondeu Megan. – Bom dia Julie. Vocês dormiram bem?
         - Dormimos sim! – respondeu Julie. - Cadê o Conrad?
         - Ligaram pra ele do trabalho. Um cliente dele se enrolou tentando explicar porque a esposa estava com o cartão de crédito dele no dia que ela foi encontrada morta.
 - Uaaaaau. O trabalho do seu pai é muito legal. – exclamou Julie. Louise olhou para a amiga com um enorme ponto de interrogação no rosto.
- Ta né? Se você acha... – respondeu a loirinha.
         - Julie, sua mãe ligou hoje cedo. – avisou Megan.
         - Ah sim, depois do almoço eu ligo pra ela. Na verdade, depois do almoço eu vou embora.
         - Ah, já amiga? – reclamou Louise.
         - Ué, quer me adotar agora? Acho que não estou disponível... – brincou Julie.
        Louise fez cara de criança dramática, mas não funcionou.
– Bom, vamos almoçar então? Se eu to com fome, imagina a Julie! – chamou a loirinha.
        O tempo estava nublado. Não estava frio nem calor. Estava bom para... dormir! E ler. E mexer na internet. Enfim, existem várias coisas legais para se fazer em dias nublados.
        Durante o almoço, o assunto foi um só: o show do dia anterior. Megan ouvia atentamente o comentário das meninas. Ela era uma mãe muito presente.
        Quando terminaram de almoçar, Julie foi logo escovar os dentes para ir embora, mesmo contra a vontade de Louise.
         - Poxa amiga, eu to com saudade da minha mãe também, né? E ela também ta curiosa pra saber como foi o show.
         - Ta bom... Então, nos vemos amanhã?
         - Nos vemos amanhã! Eu sei que é difícil pra você ficar longe de mim, mas você consegue!
         - Hahaha, muito legal você. – respondeu Louise, sarcasticamente.
        Julie se despediu de Megan e Sophie, agradeceu pela hospedagem, mandou lembranças para Conrad, se despediu de Louise de novo, e foi embora.
         - Filha, você ta sabendo de alguma novidade que vai ter na escola? – perguntou Megan, ainda fora da casa, observando Julie ir embora.
         - Não... Acho que não. Por que?
         - Nada não... É que eu achei que fosse ter algo diferente lá esse ano. Vamos entrar então? A Julie disse que vai ligar quando chegar.
         - Ta. Eu vou navegar um pouco...
        Louise foi para o quarto e pegou o notebook. Ela estava ansiosa para colocar as fotos em seu blog, ver os comentários do show, e continuar acompanhando Kimberly.
        Quando ela entrou no Twitter, ela viu que Kimberly tinha acabado de postar. Ela tinha colocado o seguinte: “Show no Texas ontem foi o máximo. Eu amo o povo da minha cidade natal!”.
        Louise logo tratou de responder a cantora teen, mas sem nenhuma esperança de obter resposta, porque isso nunca acontecia.
        Ela escreveu o seguinte: “@ktorquato eu também achei o show de ontem maravilhoso, mas eu queria muito ter ido cantar com você no palco. Enfim, eu te amo, e você me inspira!”
        Louise passou as fotos para o computador e as estava editando. Ela tinha até esquecido do twitter. Quando ela acabou de editar as fotos, antes de postar no blog, ela foi ver se Kimberly tinha escrito mais alguma coisa, ou se alguém tinha falado com ela. E a surpresa foi grande. Kimberly escreveu uma resposta pra ela. Louise não conseguia acreditar. Ela leu e releu a mensagem várias vezes para ver se era ela mesma. Estava assim “@louisemonroe você é a menina do Mickey Mouse, não é? Que bom que você gostou do show. E não fique triste, outras oportunidades virão.”
        Louise ficou muito honrada. Imagina, seu ídola se lembra de você em um show. Isso é o máximo! Imediatamente ela ligou para Julie, mas nem precisou contar a novidade.
         - Amiga, eu vi! Que feliiiiiiiiiiiiiiz! – foi assim que Julie atendeu o telefone.
         - Ela me respondeu, Julie. Ela ME respondeu. E ela lembra de mim!
         - Pois é! Cara, que legal! Imagina quantas pessoas nesse exato momento estão morrendo de inveja de você!
         -Aaaaaaaaah, a Kimberly Torquato me respondeu hoje, falou comigo ontem! Eu só posso estar sonhando!
Louise colocou essa mesma frase no twitter, só que ao invés de Kimberly Torquato, ela colocou @ktorquato.     
         - Não ta não! Coisas boas acontecem para quem merece! 
         Elas conversaram um pouquinho e depois desligaram o telefone.
        A loirinha foi correndo espalhar a novidade pela casa.
        Durante o resto do dia, Louise ficou sonhando acordada. “Caara, ela me respondeu!”, era a única coisa que ela conseguia pensar.

        Na manhã seguinte, Louise ficou com muita preguiça de acordar para ir pra escola. Mas ela foi, firme e forte. Seu pai sempre levava ela e Sophie de carro para a escola.
         - Bom dia, Julie! – exclamou a loirinha assim que achou a amiga no pátio da escola. A escola das meninas era bem legal. Se chamava Harrington High School. Era uma escola de Ensino Médio, somente. O pátio da escola era dividido em dois. Tinha a parte coberta, que era onde ficava a cantina e as mesas e cadeiras, e a parte descoberta, que era um jardim. Era bem bonito.
         - Bom dia, amiga! E ai? Recuperada? – perguntou Julie.
         - Ah, to meio em choque ainda, mas to bem! E feliz! Demais! – respondeu a loirinha. – Bom dia Cadu.
        Carlos Eduardo, mais conhecido como Cadu, era amigo das meninas, e tinha uma queda por Julie. Cadu era alto, forte, moreno, com cabelos pretos e olhos azuis. Ele era o galã da escola, e várias meninas eram loucas por ele. Só que ele não ligava muito. Ele gostava de Julie desde pequeno, mas a menina nunca deu muito bola pra isso. Sua mãe era brasileira, por isso ele tem esse nome.
         - Bom dia sortuda! – respondeu o menino. – Fiquei sabendo dos detalhes de ontem. Que bom, cara!
         - Ah, muito obrigada, Cadu! É, realmente aquele foi meu dia de sorte.
         - Fiquei feliz por você!
         - Obrigada! E ai? Chegaram muito cedo hoje? – perguntou a loirinha.
         - Não muito. Cheguei 10 minutos antes de você. – respondeu Julie. – E o Cadu disse que tinha acabado de chegar.
         - Ah sim. Foi bem difícil sair da cama hoje. Eu estava cansada ainda.
         - Imaginei. Parece que a escola toda já sabe que a Kimbely te respondeu no twitter!
         - Sério? Vou ficar famosa! – Louise riu.
         - Mas você já é famosa aqui na escola. E na nossa cidade. Em todos os festivais de primavera você arrasa, e vira assunto por semanas. – disse Cadu.
        Eles estavam no início de Maio, e embora faltasse tempo para o festival de Primavera, que era geralmente em Setembro, os ensaios da peça do festival já havia começado. Os festivais de Primavera de Harrington High School sempre atraíam vários convidados. Tinham peças teatrais, números musicais, barraquinhas vendendo diferentes tipos de alimentos e bebidas e brinquedos para as crianças. A entrada era um quilo de alimento que era doado para o orfanato da cidade, e o dinheiro que eles arrecadavam nas barraquinhas, era doado para a igreja da cidade, que estava precisando de uma reforma.
        - Ah, por falar em festival, hoje tem ensaio, né? – perguntou a loirinha. Cadu também era do grupo de teatro, mas ele não gostava de pegar papéis com muita fala. Ele fazia apenas figuração. E gostava disso. A paixão de Cadu era mesmo o basquete. Ele jogava no time da escola, e era muito bom no que fazia.
         - Tem sim. – respondeu o moreno. – Você gostou da peça que nós vamos fazer?
         - Claro que eu gostei. – respondeu a loirinha. – Fui eu quem deu a ideia. Só que agora tenho que ir com mais frequência nas aulas de canto.
        Eles iam apresentar o musical Gypsy. No musical, eram necessárias crianças que soubessem dançar e cantar, mas como era uma escola de Ensino Médio, eles tiveram que selecionar as pessoas mais baixinhas para os papéis. Foi difícil, porque não havia tanta gente baixinha interessada no grupo de teatro, mas, com a ajuda de alguns professores desinibidos, conseguiram montar o elenco.
        Louise seria Louise, uma das personagens principais. Ela tinha gostado de interpretar uma personagem com o seu nome. E ela tinha que saber cantar. Ela já fazia aulas de canto, e agora, ia ter que praticar mais. Ela estava realmente feliz com o papel.
         - E você? Gostou? – perguntou a loirinha.
         - Ah sim, claro! Adorei meu papel. – respondeu ele. Cadu seria um jornaleiro. Ele não tinha muitas falas, mas ele ia ter que cantar, juntamente a outros garotos da trama.
        O sinal tocou e todos os alunos foram para as suas respectivas salas. Louise, Julie e Cadu estavam no terceiro (e último) ano do Ensino Médio. Eles haviam estudado juntos desde sempre. Bridges Ville não era um bairro muito grande, então a maioria dos moradores já se conhecia desde muito tempo. E como os três moravam lá desde que nasceram, se conheceram logo.
        A primeira aula era de Português, com a professora e também coordenadora Cathy Elliot. Cathy já havia passado dos quarenta, e ainda estava solteira. Ela era um amor de pessoa, mas geralmente estava de mau - humor. Os alunos costumavam dizer que era falta de namorado!
        Nesta manhã, a Sra. Cathy parecia estar animada. Ela usava o jaleco da escola, que cobria quase o corpo todo, mas dava pra perceber que por baixo do jaleco tinha um suéter vermelho e uma calça jeans. Ela sempre usava suéteres.
         - Bom dia, turma. – disse ela assim que colocou seu material na mesa.
         - Bom dia, professora Elliot. – respondeu a turma em coro. Louise achava a maior “cafonisse” responder todos os professores, coordenadores e o diretor em coro. Mas essa uma das regras da escola.
         - Bom, antes de começarmos a aula, eu tenho um comunicado muito importante pra fazer pra vocês. – falou a professora.
         - As férias vão ser prolongadas esse ano? – perguntou Joseph, um engraçadinho que era conhecido na turma por sempre fazer piadinhas.
         - Receio que não, Sr. Kyle. Mas o que tenho a informar é algo muito importante, e suponho que vá despertar o interesse de todos. – respondeu Sra. Elliot.
         - Bom, como todos vocês sabem, no início do ano letivo tivemos uma reunião com todos os pais e responsáveis. E informamos que esse ano estávamos querendo fazer algo diferente com o terceiro ano. Como muitos de vocês nasceram aqui e não tiveram a oportunidade de conhecer os outros estados que formam o nosso país, decidimos fazer uma espécie de intercâmbio com vocês. Esse programa consiste em mandar vocês para casas de outras famílias em outros estados. Como o nosso país possui cinquenta estados, e vocês são quarenta e cinco, dá perfeitamente para cada um ir pra um estado diferente. – a professora deu uma pausa, respirou, olhou para a turma e continuou. – Vocês iriam para as casas de suas respectivas famílias adotivas assim que começassem as férias de inverno, em Junho. Lógico que vocês não iriam parar de estudar, suas matrículas em outras escolas seriam feitas. Na verdade, já foram. Já temos tudo decidido, os pais de vocês já concordaram e já até têm contato com as famílias que vão adotá-los. Só falta vocês dizerem se aceitaram ou não. Os que não quiserem, vão ter aulas aqui no Harrington High School normalmente.
         Frida Heart, uma menina ruiva, com cabelos compridos e que usava óculos, levantou a mão.
         - Pois não, Sra. Heart? – perguntou a professora, gentilmente.
         - Por quanto tempo vamos ficar longe das nossas famílias? – perguntou a menina com um olhar assustado.
         - Bom, a início, seis meses. Mas está quase certo que o programa vai ser prolongado para um ano. Vocês voltariam para passar o Natal e o Ano Novo com a família de vocês, e depois ficariam por lá mais um tempo.
         Frida não pareceu muito animada com a ideia. Ela era do tipo nerd – esquisita – excluída, que dependia da mãe pra tudo e não tinha facilidade nenhuma para fazer amigos.
        A maioria dos alunos, inclusive Louise, pareciam ter adorado a ideia.
         - Bom, alguém aqui tem alguma dúvida? – quis saber a professora.
        Louise levantou a mão.
         - Sim, Sra. Monroe?
         - Sra. Elliot, como foi feita a escolha das famílias que vão adotar a gente? – quis saber a loirinha.
         - Bom, nós nos inscrevemos em um programa de intercâmbio, procuramos por famílias de todos os estados daqui, e vimos, juntamente aos pais de vocês, em quais vocês se habitariam melhor. Deu muito trabalho fazer isso sem que vocês percebessem, mas pelo que vi ninguém aqui sabia de nada. E receio dizer, Sra. Monroe, que seus pais só vão conhecer a sua família hoje. A família anterior tinha muitos animais de estimação, sua mãe ficou com medo de você ter muitas crises alérgicas e decidiu procurar outra família.
         - Que legal, então eu vou conhecer a família que vai me adotar junto com meus pais! – comemorou Louise.
         - Suponho que não. Nenhum de vocês vai poder ter contato algum com a família que vão adotá-los. Queremos fazer uma espécie de surpresa. Nesse caso, vocês vão ter que confiar nos pais de vocês. Eles escolheram a família. E tem mais uma coisa. O festival de primavera vai ser em Dezembro, quando vocês voltarem. Ou seja, vai ser festival de Verão. Mais um desafio pra vocês: vão ter que organizar tudo a distância. Eu aconselho a fazerem logo tudo que têm que fazer juntos antes de irem. Depois, vocês podem ir se comunicando por e-mail, telefone... Bom, sei que com isso vocês não vão ter problema.
         Joseph levantou a mão, mas antes de esperar a professora perguntar o que ele queria, foi logo falando.
         - Mas professora, e se eu quiser ir embora? E se eu não gostar da minha família? – perguntou ele.
         - Bom, vocês têm total liberdade pra pedirem pra voltar. Lembrando que vão continuar os estudos aqui. Se o programa durar um ano, não será obrigatório para todos ficarem até o final, pois só falta praticamente um semestre para o ano letivo acabar. Mas seria muito interessante se vocês ficassem, pois aprender a cultura de outros estados, aprender a conviver com pessoas diferentes é muito importante para a vida social de qualquer um.
        Foi a vez de Julie fazer sua pergunta agora.
         - Pois não, Sra. Cooper?
         - Professora, qual é o objetivo disso tudo?
         - Como já disse anteriormente, aprender mais sobre as diferentes culturas do seu país e conviver com pessoas diferentes é muito importante. Também é importante pra torná0los independentes. E isso também vai servir para muitas outras coisas, que vocês só vão descobrir quando terminarem.
         - Que tipo de coisas? – perguntou Julie.
         - O valor que a família de vocês têm. Os jovens hoje em dia não ligam pra família. Não todos, é claro, mas a maioria prefere sair com os amigos a irem ao aniversário da avó. Não os culpo, pois já fui adolescente e sei como é isso. Mas talvez, ficar um tempo longe vai fazer vocês sentirem o quanto precisam deles.
        Louise sabia que isso foi para a maioria dos meninos e para meninas como Amber Shiner. Amber era do tipo de menina rica e bonita que explorava seus pais o máximo que podia. Como era filha única, eles faziam tudo por ela, mas ela nunca reconhecia, e pra ela, nenhum esforço deles era suficiente, ela estava sempre exigindo mais. E quanto aos meninos, bem, a maioria só queria saber de festa nos finais de semana, e mal conversavam com os pais.
        Para Louise, sua família era sagrada. Era nela que ela encontrava a força que precisava para correr atrás de seus sonhos.
         - Professora? – chamou a loirinha.
         - Sim, Louise.
         - A Sra. já tem os estados de cada um, não tem?
         - Sim! E vou dizê-los agora mesmo. Mais alguma dúvida?
        Nenhum barulho. Todos estavam ansiosos para saberem onde iriam ficar.
         - Então vamos aos lugares. Vou falar em ordem alfabética. – disse a professora. – Amber Shiner, Carolina do Sul.
        Amber fez uma cara horrível ao ouvir isso.
         - O que? Aquele lugar não tem nada. É uma roça. Eu não posso ir pra lá. – reclamou a menina.
         - Bom, reclame com seus pais então. Eles escolheram. E como a seleção foi feita em ordem alfabética, seus pais foram os primeiros a escolher. Não pode dizer que foi por falta de opção que escolheram esse lugar. – falou a professora. – Continuando. Alice Finkle, Kentucky.
        Na maioria das vezes, as caras das pessoas eram de felicidade quando a professora dizia a cidade em que iriam ficar. Obviamente porque os pais sabiam onde os filhos gostariam de passar um tempo.
Louise se distraiu tentando imaginar o estado que seus pais escolheram, e quando caiu na real, já estava na letra “J”.
         - Julie Cooper, Flórida.
        Julie comemorou. Era queria muito ir pra Disney.
         - Lewis Tompson, Iowa.
         - Louise Monroe, Califórnia.
        “Hollywood!”, foi a primeira coisa que a loirinha pensou antes de dar um gritinho de alegria.

        Quando chegou no intervalo, Louise, Julie e Cadu sentaram juntos e começaram a conversar sobre a novidade.
         - Cadu, você vai pra onde mesmo? – perguntou Louise.
         - Oregon. Bem perto da Califórnia. – disse ele com um sorriso.
         - Pois é! – comemorou a loirinha. – Mas ambos ficam muito longe da Flórida. – falou agora com um certo tom de tristeza.
         - Ah, mas a família de vocês TEM que levá-los na Disney! Então é só vocês me avisarem quando forem pra eu ir também!
         - Com certeza avisaremos – disse a loirinha. – Mudando de assunto, vamos ter que pegar pesado nos ensaios agora. E eu quero ver como vou fazer com as aulas de canto. Se a família não gostar de cantoria eu to ferrada.
         - Calma! Eles vão gostar sim. Quem é que não gosta de música? – Cadu tentou tranquilizar a amiga.
         - De música bem cantada, todo mundo. Mas de música cantada por mim... Bem, ai já é outra história!
        Os três riram. Passaram todo o intervalo conversando. Julie estava comendo a sua famosa empadinha de frango de todos os dias. Quando eles menos esperavam, o sinal tocou, informando o fim do intervalo.   
        Durante o restante da aula, o assunto não foi outro: o intercâmbio. Os outros professores até tentaram manter a calma da turma, mas todo esforço foi em vão. Ali era um contra quarenta e cinco, não tinha como ganhar, então os professores acabaram entrando no assunto e deram conselhos para os alunos.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Capítulo 1 – O show

- Anda logo, Louise. Vamos nos atrasar. – chamou Julie, a melhor amiga de Louise.
Julie tinha a pele branca, era magra, dona de cabelos compridos, lisos e castanhos claros, assim como seus olhos. Era muito bonita. Mas não como Louise.
Louise também tinha a pele branca e era magra. Seus cabelos eram loiros, cacheados e compridos. Seus olhos eram cor de mel. Ela era muito linda, e muito cobiçada no bairro em que morava.
- Ta bom, ta bom. Já to indo. – respondeu Louise.
Louise e Julie eram amigas desde sempre. Suas famílias já eram amigas antes delas nascerem, então elas cresceram juntas e uma via a outra como irmã. E até hoje, com 16 anos cada uma, esse sentimento não mudou.
As duas amigas moravam em um bairro nobre de Dallas, uma cidade do Texas. Elas não eram ricas. Mas também não eram pobres.
Elas eram do que chamamos de classe média. Tinham tudo o que precisavam, e às vezes, até mais.
As meninas estavam se preparando para o show da Kimberly Torquato, uma cantora e atriz de Hollywood que era a musa inspiradora de Louise. Kimberly tinha 18 anos, cantava desde os cinco e atuava desde os oito. Ela era branca, com cabelos e olhos pretos. Era uma pessoa normal, com nada que chamasse atenção, tipo, olhos azuis, cabelos loiros... Essa história de conto de fada, sabe?
Mas para Louise ela era perfeita. A loirinha, que sonhava em ser atriz, sempre se espelhava na cantora pra atuar nas peças da escola. E admirava demais sua personalidade, sua força de vontade, seu senso de humor... Tudo. Admirava absolutamente tudo em Kimberly.

Julie estava na casa da amiga para poderem se arrumar juntas. O pai de Louise as iam levar para o show.
- Amiga, tem certeza que essa roupa ta legal? Porque se não tiver, eu vou trocar.
- Louise, ta ótima. Você ta linda, vai arrasar lá. – respondeu Julie, sem muita paciência.
Louise estava usando uma blusa do Mickey Mouse com um colete jeans por cima, uma calça skinny, e all star. Nada mais confortável.
Julie, ao contrário da amiga, não queria ir confortável, e sim, chique. Ela estava com uma saia de cintura alta, uma blusa de manga comprida e ankle boots, com saltos enormes.
- Julie, tem certeza que você vai com isso ai? – perguntou Louise, apontando para os sapatos da amiga. – Seus pés vão cair.
- Ih, que nada. Eu to acostumada. Além do mais, a fanática aqui, que vai ficar pulando e gritando, é você.
- Ta, né? Então vamos?
- Vamos. Antes que você cisme que essa roupa ta feia de novo.
As duas foram andando até a sala, onde estavam os pais e a irmã de Louise, para perguntarem se estavam bem arrumadas.
- Filha, você ta linda. – respondeu Megan, a mãe de Louise. – Ah Julie, você também está um arraso. Mas não vai cansar com esses sapatos não?
Megan não era tão alta. Ela tinha a pele morena, e os cabelos eram parecidos com os da filha, só que eram pretos e seus olhos eram castanhos. Ela trabalhava como colunista em um jornal famoso na cidade, o “Dallas News”. Ela escrevia textos sobre diversos assuntos. Tudo bem que na maioria das vezes ela escrevia sobre moda, mas quando tinha algum assunto que chocava a cidade ela fazia um comentário sobre ele.
- Ah, que nada! Tenho que me acostumar a usar salto, né? Eu quero ser modelo! – respondeu a quase-filha de Megan.
- Pai, vamos então? – chamou Louise.
O pai de Louise, Conrad, era advogado criminal. Ele era alto, magro e tinha cabelos pretos também. Mas na infância, os cabelos dele eram loiros, o que explica a cor do cabelo de Louise e Sophie.
Sophie era a irmã caçula de Louise. Ela tinha seis anos, e era um amor de menina, embora fosse muito bagunceira. Ela era branquinha, e tinha cabelos lisos e loiros. Ela estava sem os dentes da frente, e adorava tirar fotos mostrando as “janelinhas”. Ela dizia que ia mostrar para os futuros namorados dela como ela era bonita mesmo sem dentes.
- Maninha, olha o que eu aprendi a fazer no balé. – disse Sophie, enquanto saia rodopiando pela sala.
- Nossa, que linda! Tenho certeza que você vai arrasar na sua apresentação! – disse a loirinha, dando um beijo na bochecha da irmã. – Então pai, vamos? – repetiu a loirinha.
- Ah sim, claro filha. – respondeu Conrad, tirando pela primeira vez desde que Louise chegara na sala os olhos da TV. – Uaaaaaaaau, mas que gatas! – disse referindo-se a Louise e Julie. – Desse jeito vou ter que ficar lá no show com vocês!
- Pai, por favor, né?!
- Ta bom, vamos nessa então. – respondeu ele.
Todos se encaminharam então para a porta da sala.
A casa de Louise é uma típica casa americana. Embora típicas casas americanas não fossem comuns em Dallas. Acontece que Louise morava em um condomínio só de casas, tipo uma vila, e lá, todas as casas eram normais. Tem dois andares, uma garagem, onde ficam guardadas várias coisas além do carro, um porão, onde ficam guardadas mais coisas, um jardim na frente da casa, com um caminho de pedras até a porta da sala. E saindo pela porta da sala, do lado esquerdo do jardim, você encontra uma enorme mangueira (a árvore, e não uma mangueira tipo aquelas de bombeiro).
O carro do pai de Louise já estava fora da garagem, então, era só se despedir e entrar.
- Tchau filha, bom show. – disse Megan, dando um beijo na bochecha da filha.
Ela repetiu o gesto com Julie.
Sophie deu um beijo melecado de chocolate na irmã. Se Louise estivesse de mau humor, aquela seria uma boa hora para reclamações, mas como ia ver a Kimberly Torquato, ela apenas riu e retribuiu o beijo da pequena.
Feitas as despedidas, as meninas entraram no carro, onde Conrad já estava.
- E ai? O que vamos ouvir? – perguntou ele.
- KIMBERLY!! – responderam as meninas em coro
Conrad não esperava resposta diferente dessa, e ele já tinha o CD no carro, então foi só apertar o play.
Era estranho ver um homem de quase quarenta anos cantando as músicas de uma estrela adolescente, mas Louise achava o máximo.
Quando chegaram ao local do show, as meninas se depararam com uma fila enorme. Ainda eram 16h45min, faltavam 15 minutos para abrirem os portões.
- Não entendo por que abrem esses portões tão cedo. – disse Conrad. – O show só vai começar 20:00. É muito tempo pra ficar esperando.
- Ah pai, tudo bem, a gente não liga não.
- Bom, eu vou esperar aqui até vocês entrarem. Vamos pra fila?
Os quinze minutos passaram voando, e quando menos esperavam, a fila começou a andar.
- Tchau meninas, se divirtam hein! – disse Conrad, dando um beijo na testa de cada uma. – Quando acabar me liga.
- Ta bom pai. Tchau!
- Tchau, Conrad.
- Ai amiga, eu nem acredito que vou ver a Kimberly de perto. – disse Louise.
- Calma! Você já foi num show dela uma vez, né? Esse vai ser mais tranqüilo.
- Ah, eu sei que eu já fui, mas não é a mesma coisa.
Então elas foram caminhando até seus devidos lugares. E era realmente muito perto do palco. Colado com o palco.
Assim que Louise olhou para o local, ficou de queixo caído.
- É aqui mesmo, assim, tão perto? – perguntou a loirinha, com os olhos brilhando.
- Aham! – respondeu Julie, feliz com a expressão que viu no rosto da amiga.
Não tinha cadeiras no local, o jeito era ficar em pé esperando mesmo. Ou sentar no chão, que foi o que Louise e Julie fizeram.
O palco era em forma de “T”, e as amigas fizeram de tudo pra ficarem bem coladas na “passarela”. Quando finalmente encontraram o lugar perfeito, elas se sentaram no chão.
- Eu nem acredito que dentro de poucas horas nós vamos ver a Kimberly. Eu acho que vou passar mal.
- Não amiga, não pode. Senão você nem vai aproveitar o show. – disse Julie.
- É... Eu acho que posso esperar acabar pra passar mal!
As duas riram. As amigas ficaram ali, conversando por muito tempo.
- To com fome. – reclamou Julie.
- Demorou hoje, hein! – brincou Louise. – Vai lá comprar alguma coisa pra comer que eu guardo os lugares aqui.
- Ah é, você vai deitar no chão pra guardar o meu lugar?
- Huum... Bom, eu não tinha pensado nisso, mas é uma boa idéia. – e foi o que Louise fez. Deitou no chão. É, ela não era uma pessoa muito tímida, e costumava fazer o que tinha vontade.
- Fala sério, Louise, você vai ficar ai mesmo?
- Vou. Mas anda logo, não quero ser pisoteada aqui.
Julie riu. Ela já estava acostumada com o jeito da amiga, então nem achou muito estranha a atitude.
- Ta... Você vai querer alguma coisa?
- Aham. Pega o dinheiro na minha carteira e compra alguma coisa que você saiba que eu goste. – respondeu a loirinha.
- Ta. Volto em um segundo.
- Sem problemas. O chão até que ta confortável.
Julie saiu rindo. O quiosque onde ela foi não era muito perto. Mas também não era muito longe.
Louise ficou ali, deitada, de olhos fechados, imaginando que dentro de pouco tempo ia poder ver de perto (literalmente) a pessoa que mais a inspirava nas peças, a pessoa que tinha a voz mais doce, a pessoa que mostrou que não é necessário ser um modelinho clichê pra fazer sucesso, a pessoa que...
- Ta tudo bem com você, colega? – perguntou um menino. Um menino muito lindo na opinião de Louise.
Ela estava ali, sonhando com o momento mágico do show, e quando abriu os olhos um típico príncipe de conto de fadas estava olhando pra ela.
Bom, ele não era um típico príncipe, porque ele não era loiro, nem tinha olhos azuis. Mas se pararmos pra analisar, o príncipe da Branca de Neve também não tinha essas características e nem por isso deixou de ser príncipe. O fato é que o menino era realmente lindo. Ele era branco, com cabelos pretos e lisos. Seus olhos eram da mesma cor dos olhos de Louise, cor de mel. Seu sorriso era tão... tão perfeito.
- Ah, tudo... Tudo. É que eu to guardando o lugar da minha amiga, e... – Louise estava meio sem graça diante daquela situação.
- Tudo bem, eu posso fazer esse favor pra você. – respondeu o menino.
- Mas...
- Calma, eu vou sair quando ela chegar! Afinal, qual é o seu nome?
- Louise... E o seu é...?
- Marley.
- Mas Marley não é...
- Nome de cachorro? É sim. É que a minha mãe gostava muito daquele livro, e resolveu colocar meu nome de Marley. Meu pai não gostou muito da idéia, mas ela ameaçou terminar com ele e arrumar outro marido que quisesse ter um filho chamado Marley, então ele aceitou.
- Desculpa ter pensado isso, mas é que...
- Tudo bem, eu aturo piadas com o meu nome desde que eu entrei na escola. Nem me abalo mais. A propósito, Louise, seu nome é muito bonito.
- Obrigada!
- Fã da Kimberly?
- Viciaaaaaada! Suponho que você também seja né? Caso contrário não ia ter comprado os ingressos mais caros.
- É, sou sim. Ela canta pra caramba!
- É eu sei. Ah, legal isso. Você é o primeiro garoto que eu conheço que gosta da Kimberly. Quer dizer, tirando o meu pai...
- Seu pai gosta dela?
- Gosta! Tem que ouvi-lo cantando as músicas... É muito engraçado!
- Ah, eu adoro. Na verdade comecei a escutar por causa da minha irmã mais velha. E fiquei mais viciado do que ela.
- Ela ta aqui?
- Ta. Com o namorado dela. Por isso que eu vim dar uma volta.
- Ah sim... Entendi. Se você quiser, você pode ficar aqui perto da gente. Tenho certeza que a Julie não vai se importar.
- Sério mesmo? Bom, realmente é chato ficar perto de um casal se agarrando... Acho que vou aceitar seu convite!
- Okay então!
Louise tinha gostado de Marley. Ele parecia simpático e um modelo raro de meninos. Pelo menos um modelo raro em Dallas.
Marley também tinha gostado de Louise. O jeito dela de “não-tô-nem-ai-pra-nada” o deixou bem curioso para conhecê-la melhor.
- Amiga, só tinha pipoca e cachorro-quente lá. – disse Julie, chegando com as mãos completamente cheias. – E eu trouxe cachorro-quente porque alimenta mais, e a pipoca devia estar murcha.
- Tudo bem. Julie, esse é o Marley e ele vai ficar aqui com a gente, ta?
- Pffff... Marley? – Julie estava tentando conter o riso, embora fosse quase inevitável. – Err... Desculpa por eu ter rido...
- Tudo bem, já to acostumado. Prazer. – disse Marley, estendendo a mão para Julie.
- Igualmente. – respondeu ela.
Julie tinha comprado um cachorro-quente pra ela também, e um suco de pêssego para cada uma.
Quando Louise abriu a caixinha do cachorro-quente ela ficou meio desanimada.
- Cara, eu não acredito. Dez dólares por pão e salsicha? – reclamou a loirinha.
- Ah, tem sachês de ketchup e mostarda também... – falou Marley, tentando não rir do espanto de Louise.
- Legal, e eu só gosto de maionese, que por sinal, não tem aqui. Que droga.
- Amiga, em shows eles não costumam vender muitas coisas pra comer. – disse Julie. – Tinham outras coisas também, mas você não gostava de nada. Então eu trouxe isso mesmo.
- Tudo bem, a culpa não é sua... Mas eles podiam caprichar um pouquinho mais, né? Ah, eu to reclamando como se eu tivesse morrendo de fome, né?! Haha’
- Pois é. – concordou Julie. – Quem era pra reclamar aqui era eu.
- Marley, você quer um pedaço? – perguntou Louise, educadamente. – Sei que a propaganda que eu fiz não foi uma das melhores, mas...
- Haha. Tudo bem. Não quero não, obrigada. Você é fresca com comida, Louise? Dentre todas as coisas que vendem lá, você só gosta de pipoca e cachorro-quente?
- Bom, eu sou meio fresquinha sim...
- Meio fresquinha? – intrometeu-se Julie. – Você é fresca pra caramba, Louise. Cara, essa garota não come nada. É incrível. Nem de chocolate ela gosta, pra você ter uma noção.
- O QUE? Não gosta de chocolate? Na boa, você tem algum problema, né?
- Ué gente, eu não gosto... Meu paladar é exigente.
- Você come o que, exatamente? – quis saber o moreno.
- Ah... Eu não gosto de carne vermelha, só como frango e peixe. Mas depende de como for preparado. Verduras e legumes, eu até como alguns. Huum...
- Ela não gosta de queijo. – contou Julie.
- Ah Julie, nem é bem assim... Eu como sim.
- Aham, come quando você não vê.
- Então. É que eu não gosto de queijo em excesso, sabe? Tipo aquelas pizzas que vêm cheias de queijo, e quando você puxa um pedaço, fica aquele monte de queijo agarrado...
- Cara, aquilo que é bom. – disse Marley.
- É, respondendo a sua pergunta, eu sou sim fresca com comida. – Louise estava tentando fazer Marley entender que ela queria acabar com o assunto. Mas parece que ele não entendeu o recado.
- E você, Julie? Seu paladar é exigente também?
- Nem um pouco. – respondeu Julie. – Eu como de tudo. Tudo mesmo.
- É verdade, ela é meu oposto em relação a isso. – falou Louise. – Bom gente, vamos mudar de assunto?
Louise mal tinha começado a comer o cachorro-quente, mas seu suco já tinha acabado.
Eles ficaram ali, conversando por mais ou menos quarenta minutos. E quando eles menos esperavam, as luzes apagaram.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – todos presentes começaram a gritar. E Louise, com certeza não ficou de fora.
- Caaaaaaaaaramba, eu acho que vou passar mal. – gritou uma menina que estava atrás de Louise, quase pulando em cima da loirinha.
- Acho que não vai ser difícil se você continuar gritando no meu ouvido. Eu mesma dou um jeito de você ir pra enfermaria. – reclamou a futura estrela de Hollywood, mas só quem ouviu o comentário foi Marley, que ficou rindo da situação.
A banda de Kimberly começou a tocar, e a multidão pirou mais ainda. Louise estava muito nervosa. Em instantes sua estrela favorita ia estar ali, bem perto.
- “I am confident, but I still have my moments baby, that’s just me...” – era Kimberly. Louise não podia acreditar.
E então, Kimberly apareceu. Linda, como sempre. Com uma calça jeans preta, uma blusa dourada e uma jaqueta de couro, também preta. Sua bota era um arraso. De salto alto. Louise parou de se mexer imediatamente. Ela não acreditava no que via. Tudo bem que ela já tinha ido num show da Kimberly antes, mas ela estava muito perto.
- Louise, você ta bem? – perguntou Julie, balançando a amiga.
- Ahaam. – respondeu Louise sem nem ao menos tirar os olhos do palco.
Julie esperou por alguns minutos para ver o que ia acontecer. Ela sabia que em algum momento Louise ia surtar. Ou ia chorar, ou ia gritar, ou ia fazer os dois... E não deu outra.
– CAAAAAAAAAAAAAAAARA, é a Kimberly! Ela ta aqui. Perto de mim. – gritou Louise.
E depois disso, ela começou a chorar. Mas nada escandalosamente. E afinal, ela não era a única que estava chorando. Muitas pessoas também estavam.
Depois desse “momento emoção”, Louise e Julie começaram a acompanhar a multidão, dançando, pulando e gritando.
Quando chegou a mais ou menos trinta minutos de show, Kimberly resolveu fazer uma “surpresa”. Digo “surpresa” porque ela sempre fazia isso nos shows, então os fãs meio que já esperavam.
- Quem é que ta a fim de subir no palco? – perguntou Kimberly.
Todos, sem exceção, começaram a gritar, implorando para que a estrela americana os chamasse, sem ao menos lembrarem se tinham vergonha de multidão ou não. Louise sabia que não tinha medo de multidão. Ela estava acostumada a se apresentar pra muita gente. Tudo bem que ali tinha um pouco mais do que ela estava acostumada, mas ela sabia que podia encarar, então começou a gritar com todas as suas cordas vocais.
- Você. – disse Kimberly apontando para um menino magrelo, branquelo e de cabelos ruivos enrolados.
O garoto nem acreditou. Mas quando ele caiu na real os seguranças já estavam com ele nas costas, o colocando em cima do palco. Quando ele subiu, nem um abraço em Kimberly ele conseguiu dar. Ficou pasmo olhando para a multidão.
Louise começou a chorar, assim como várias pessoas, por ter perdido a oportunidade de ficar frente a frente com sua estrela favorita.
- Qual é o seu nome? – perguntou Kimberly ao menino.
Ele nada respondeu. Apenas continuou olhando pra multidão.
Kimberly tentou perguntar de novo, mas antes que pudesse o garoto caiu desmaiado. Ela entrou em pânico, claro. Os paramédicos logo pegaram o garoto, que não demorou nem um minuto para acordar.
- Você ainda vai querer cantar comigo, é...? – perguntou Kimberly.
- Jake. Meu nome é Jake. E não, não vou querer cantar lá na frente de todo mundo. Eu sou tímido, não vou conseguir. – respondeu ele, ainda meio assustado. – Eu nem sei suas músicas, desculpa. Eu vim aqui acompanhar a minha irmã.
- Ah, tudo bem... Eu é que peço desculpas então. Você quer levar um CD autografado pra ela?
- Quero! Claro que quero! Ela vai amar! Muito obrigada, Kimberly, de verdade! – disse ele.
Então, Kimberly pegou um CD, autografou, e voltou para o palco.
- Bom gente, tivemos um problema aqui, e eu vou ter que escolher outra pessoa. – informou a cantora.
Mais gritaria. Mais choros. Mais empurrões. Louise viu que a tinha ganhado outra oportunidade, então começou a gritar com mais força ainda.
- EEEEEEEEEEEEEEU KIMBERLY. ME CHAMA, POR FAVOOOOOOOOOOOOOOR. – gritou a loirinha.
Parece que gritar tanto não funcionou. Kimberly chamou outro menino. Dessa vez um pouco mais bonito. E ele não desmaiou nem nada, muito pelo contrário, ele parecia bem a vontade no palco.
- Droga, eu perdi de novo. – falou Louise, chorando mais ainda.
Como ela estava perto do palco, Kimberly podia vê-la. E como ela era a que mais estava chorando ali, chamou a atenção da cantora.
- Ei loirinha, não fica assim não. –falou Kimberly. Todos que estavam ali por perto olharam pra Louise. Mas a loirinha estava de cabeça baixa, então Marley cutucou ela.
- Ou, eu acho que ela ta falando com você. – disse ele.
- Hã? – perguntou ela levantando a cabeça. – Que?
- Não chora, por favor. – falou Kimberly. – Eu não gosto de deixar meus fãs tristes.
Louise ficou boquiaberta.
- É comigo mesmo que ela ta falando? – perguntou para a amiga.
- É sim! – respondeu Julie, feliz da vida.
Louise apenas balançou a cabeça, afirmando que não ia mais chorar. E quando Kimberly virou para o garoto, ela começou a gritar.
- AAAAAAAAAAAAAH, A KIMBERLY FALOU COMIGO. ELA ME VIU. AAAAAAAAAAAAAH.
Marley, Julie e mais algumas pessoas que estavam por perto começaram a rir.
Para Louise, o show já tinha sido perfeito. Kimberly tinha falado com ela. E, mesmo que Kimberly não fosse mais se lembrar dela no futuro, pra ela, aquele dia ia ser inesquecível.
O show durou mais uma hora e meia, e no final, quando Kimberly foi se despedir, ela jogou os anéis e pulseiras para o público.
- Psiu. – chamou Kimberly.
Todos olharam, mas o ‘psiu’ tinha sido pra Louise. Ela jogou um anel escrito “Love” para a loirinha, piscou o olho, acenou pra todo mundo, e saiu do palco.
Pois é. Acabou. Louise não podia estar mais feliz, embora ainda estivesse paralisada olhando pro anel. Julie e Marley ficaram esperando por outro surto, mas não aconteceu.
- Que show... maravilhoso. – falou Louise com os olhos arregalados. – To pronta para o próximo.
- Ai amiga, que bom que você gostou. Você conseguiu o anel dela, e ela falou com você, viu? – Julie realmente estava feliz pela amiga.
- Loirinha de sorte você, hein! Sabia que esse era o anel preferido dela? – perguntou Marley.
- Sabia. – respondeu a loirinha, ainda maravilhada com o dia perfeito que ela havia tido. – E eu vou cuidar dele muito bem. Nunca vou usar, ele vai ficar guardado. Se ela quiser ir visitar ele, eu não vou reclamar.
Marley e Julie riram.
- Bom, vamos então? – chamou Julie. – Marley, foi um prazer conhecer você. Vamos continuar nos comunicando?
- Ah, com certeza. Vou adicionar vocês hoje mesmo. Orkut, MSN, facebook, vou seguir no twitter... Tudo!
- Okay então. Tchau!
- Tchau. – respondeu ele, dando um beijo na bochecha de Julie. – Tchau Louise. – disse ele. – foi muito bom conhecer você.
A loirinha ainda estava em outro mundo, mal conseguiu respondê-lo direito.
- Tchau. Você é muito legal, Marley... E... Tchau. – disse ela dando um beijo na bochecha do menino.
Então elas seguiram para o estacionamento, onde o pai de Louise já estava esperando. É, parece que ele ia ter muito o que ouvir durante o trajeto para casa.