quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo 3 – O início de tudo

      Louise chegou em casa e foi logo contando da novidade. Na verdade era novidade pra ela e pra Sophie, pois seus pais já sabiam.
         - Mãe, quem teve a ideia de escolher a Califórnia? Você ou o papai?
         - Bom, nós dois nos lembramos de Hollywood. Realmente esperamos que você consiga algo lá! Mais tarde nós vamos conhecer a família que vai te adotar.
         - Eu queria tanto saber. Mas a professora já falou que eu não posso. – disse ela, fazendo um certo drama.
         - É, vai ser melhor se for surpresa. Espero que essa família não tenha muitos animais de estimação. A outra tinha oito cachorros e três gatos! – disse Megan.
         - Uau! Eu ia ter ataque alérgico todos os dias.
         - Bom, vamos almoçar então? – chamou Conrad, que tinha acabado de sair de frente da TV, juntamente a Sophie.
        Ela sempre vê um desenho animado que dá exatamente quando ela chega da escola, então ela só vê o final, mas não se importa. Conrad assiste com ela todos os dias.
         - Vamos! To com muita fome mãe! Eu não consegui comer a maçã que você mandou pro lanche. – disse a pequena, apontando para os dentes.Ou melhor, para a falta dos deles.
        Todos na casa riram.
         - Ah, desculpa meu amor, eu esqueci. Mas eu também mandei aquele biscoito de leite que você gosta. Você não comeu?
         - Comi, mãe. Mas você acha que só aquilo me alimenta? To em fase de crescimento. – respondeu Sophie, fazendo todos rirem novamente.
        Os almoços da família Monroe eram sempre divertidos. Sophie sempre os fazia rir com suas histórias. Ela percebeu que ia sentir falta disso. E se a outra família não almoçasse junta? E se eles fossem sérios? Essas perguntas permaneceram em sua cabeça por algum tempo, até Sophie espirrar e jogar vários grãos de arroz (que vazaram pela famosa “janelinha”) em cima dela.
         - Eca! Que nojo! – falou Louise, mas ela não conseguiu se manter séria por muito tempo e começou a rir com o restante da família.

        Depois do almoço, Conrad descansou um pouco e voltou para o escritório. Louise voltou para a escola para o ensaio da peça. Sophie foi para o balé com a babá, e Megan foi para a redação do jornal.
        Essa era a rotina deles. Sophie e Louise quase não paravam em casa durante as tardes. A pequena fazia balé, natação e teatro. E Louise fazia aulas de teatro, canto, dança, frequentava a acaKimberlya e, agora, tinha os ensaios da peça. A vida da família era muito corrida, e por isso precisavam de uma empregada e de uma babá para Sophie. Louise também teve uma durante a infância. Na verdade, era a mesma que toma conta de sua irmã agora, a Nancy.
        Quando ela começou a trabalhar para a família Monroe, Louise tinha apenas dois anos. Ela tinha vinte e seis, e sempre fora muito carinhosa. Era baixinha, magra, da pele branca e cabelos pretos, lisos e compridos. Tinha uma vida bem simples, e não era babá por falta de opção não; era o que ela realmente queria. Agora, ela estava com quarenta anos, mas sua paixão por crianças ainda era a mesma. Sophie adorava Nancy, e lamentava o fato da babá não ficar na casa dela o dia inteiro, pra fazê-la dormir, que nem as babás das amigas dela. Não que ela desgostasse da mãe, longe disso. Mas ela adorava Nancy de verdade.
        Os Conrad não queriam que as filhas crescessem sem a presença deles. Eles contrataram Nancy por praticidade e necessidade. Eles tinham que trabalhar, e precisavam de ajuda pra levar as filhas onde elas precisavam quando eles não podiam.
        Megan e Conrad chegavam em casa geralmente às seis da tarde, e depois disso, Nancy era dispensada. Sophie fazia balé nas Segundas e Quartas, de duas às quatro. E natação nas Terças e Quintas, no mesmo horário. Então Nancy a ajudava com a tarefa de casa depois que voltavam. Nas Sextas, ela fazia teatro, também de duas às quatro.
        Louise chegava mais tarde. Nas Segundas e Quartas, ela fazia aula de canto, de duas da tarde até as três, e dança, de três e quinze às cinco. Nas Terças e Quintas, ela fazia teatro, de duas da tarde até as cinco. Ela frequentava a acaKimberlya todos os dias. Não tinha nenhum horário fixo, mas ela sempre ia pouco depois de cinco e meia, já que os locais onde fazia suas aulas eram perto da acaKimberlya, e chegava em casa por volta das sete da noite.
       
         - Oi pessoal! – cumprimentou a loirinha assim que chegou ao ensaio. Ela tinha pegado carona com o pai, já que a escola é caminho para o trabalho dele.
        O elenco estava quase todo lá. Margaret Sparks, uma menina morena de cabelos castanhos, curtos e ondulados, ia interpretar Rose, a mãe de Louise. E Jennifer Moeller, uma menina branquinha, de cabelos pretos, lisos e curtos, iria interpretar June, a irmã de Louise. Essas eram as três protagonistas da peça: Louise, June e Rose.
         - Oi Louise! Que bom que você chegou. – falou Cadu. – Eu e os meninos estávamos ensaiando a coreografia aqui. Você já conseguiu decorar todas as suas falas?
         - Aham, consegui. Só tenho que treinar mais a música. Eu to desafinando em uma parte, tenho que treinar isso. – respondeu a loirinha. – Minha família da Califórnia vai sofrer!
         - Ah, a minha também. Não posso esquecer essa peça, quero que seja algo que todos lembrem. É a nossa última peça aqui, tem que ser histórica!
         - Bom, vamos lá então? – chamou Louise. – Margaret e Jennifer, vocês já decoraram todas as suas falas?
         - Bom, eu já decorei. Só to com um pouquinho de dificuldade na música. – respondeu Margaret. – Eu não sei cantar muito bem. Vou começar aulas de canto agora, lá onde você faz.
         - Sério?! Que legal! Bom, então nós vamos dar um jeito nisso logo! – disse Louise.  – E você Jennifer?
         - Bom, eu ainda não decorei tudo, mas falta pouca coisa. – respondeu a morena.
         - Tudo bem. Vamos lá então. – chamou a loirinha.
        Eles ficaram ensaiando até às cinco horas. Foi um ensaio bem produtivo e divertido. Depois, Louise foi para a acaKimberlya. E quando chegou em casa, estava muito cansada.
         - Boa noite, mãe. – falou a loirinha, dando um beijo na bochecha de Megan.
         - Boa noite, querida. E ai? Como foi o ensaio?
         - Ah, foi muito legal. Todos já estão com suas falas decoradas e estão realmente dedicados. Vocês já conheceram a família que vai me adotar?
Nesse momento, Conrad apareceu, abraçando a filha pela cintura.
         - Curiosa essa menina, né? – falou ele.
         - Pois é! – concordou Megan. – Sim, conhecemos. E temos certeza de que você vai gostar bastante.
         - Não podem nem dar uma dica de como eles são? – insistiu a loirinha.
         - Bom, eles são do tipo de pessoas que você gosta. – respondeu Conrad.
         - Ah, que bom...
         - Bom, vai tomar banho filha, o jantar já está quase pronto.
         - Tudo bem, to indo. Cadê a Sophie?
         - Ta vendo DVD no quarto. Aquelas coisas da Barbie que ela gosta. – disse Conrad.
         - Quando você descer do banho, trás ela por favor, filha. – pediu Megan.
         - Ta, tudo bem.
        Louise subiu para tomar banho, e ficou imaginando como seria sua família adotiva. Por mais que ela estivesse ansiosa para essa viagem, o medo e a tristeza eram inevitáveis. E se ela não gostasse de lá? Como ela ia fazer? E a sua família? Ela ia sentir saudades, com certeza. Tudo bem que ela iria voltar em Dezembro, para o festival. Mas e depois?
        “Bom Louise,”, pensou ela “nada de desistir. Você vai gostar de ficar lá e vai se dar bem. E de quebra, vai conseguir ver a Kimberly de novo.” Uns vinte minutos depois, Louise desceu, carregando Sophie nas costas. Ela ia sentir muita falta da irmã.
        Durante o jantar, Louise ficou tentando arrancar mais informações dos pais. Mas eles estavam dispostos a deixá-la muito curiosa, então ela logo desistiu de questioná-los. Assim que acabou de comer, Louise foi escovar os dentes, e depois foi ensaiar as músicas que ia ter que cantar na peça.
        Quando eram mais ou menos nove e meia, ela foi para o quarto dos pais ver um programa de TV que eles sempre viam juntos. Era uma série cômica, que eles adoravam. Sophie sempre dormia antes de acabar. E dessa vez, não foi diferente. Quando acabou, Louise se despediu dos pais e foi para seu quarto, enquanto Conrad levava a mais nova para seu quarto.
        Na manhã seguinte, Louise acordou meio indisposta, com dor no corpo e um pouco de febre.
         - Filha, ta na hora de acordar. – disse Megan, abrindo as cortinas do quarto.
         - Mãe, eu não to me sentindo muito bem...
         - Sério? O que você tem? – perguntou, ao mesmo tempo em que colocava as mãos na testa da filha. – Nossa, você está com febre... Deve ter sido a friagem que você pegou ontem enquanto voltava da academia.
        Louise apenas confirmou com a cabeça e colocou o travesseiro na frente do rosto, demonstrando que a claridade a estava incomodando. Megan entendeu o recado e foi logo fechar as cortinas.
         - Bom, vou avisar a Nancy que você vai ficar em casa e vou pedi-la pra vir mais cedo, pra ela vigiar você.
         - Não precisa, mãe. Eu tenho dezesseis anos, acho que consigo me virar sozinha. E eu acho que não é nada grave. Vai dar pra ir à aula de teatro, não vai?
        Louise odiava perder as aulas de teatro, porque ela realmente se divertia lá.
         - Mas filha, você não ta bem...
         - É só você me dar um remédio agora que de tarde eu já vou estar melhor. Por favor, mãe.
         - Só se você estiver sem febre.
        Louise comemorou. Tomou o remédio que a mãe mandou, e ficou deitava durante toda a manhã. Jane, a empregada da família, levou o café-da-manhã para a loirinha no quarto.
         - Jane, Jane, querida Jane. Sempre tão gentil! – disse. – Não precisava disso tudo!
         - Que isso! Sua mãe disse que você estava indisposta, então imaginei que você não fosse descer. Mas ficar sem comer? Nem pensar!
         - Haha. Tudo bem. Pode deixar que eu vou comer tudo sim.
         - Qualquer coisa é só chamar, ta? Vou estar lá na cozinha.
         - Tudo bem. Mas não precisa se preocupar não. Eu to legal.
        Quando deu mais ou menos dez horas da manhã, Louise tentou levantar, mas o mais longe que conseguiu chegar, foi no sofá da sala. Ela deitou lá e ficou assistindo TV. Não demorou muito para o seu celular tocar.
         - Alô.
         - Alô, amiga por que você não veio pra escola? – perguntou Julie.
         - Ah, eu acordei meio indisposta, com febre... Achei melhor ficar em casa.
         - Mas é alguma coisa grave?
         - Não. Deve ser só uma gripe. Perdi alguma coisa importante?
         - Não. Os professores estão mais animados com a nossa viagem do que nós mesmos. Acho que é porque eles vão trabalhar menos!
         Louise riu.
         - É. Deve ser.
         - Tem certeza que ta tudo bem?
         - Aham, tenho sim. Acho que até vou pra aula de teatro.
         - Bom, tudo bem então. Só liguei pra saber por que você tinha faltado.
         - Obrigada por se preocupar, amiga! Beijos.
         - Beijos. Melhoras!
         - Obrigada.
        Nancy chegou pouco antes de Sophie chegar da escola.
         - Olá Louise, por que você não foi à escola hoje? – perguntou Nancy, assim que entrou na casa.
         - Ah, oi Nancy. Eu não acordei muito bem, sabe?
         - Mas você já ta melhor?
         - To sim. Obrigada por perguntar! Chegou mais cedo hoje!
         - Pois é. Eu tive que passar no banco, achei que a fila fosse estar enorme, mas não tava. Mas eu resolvi vir direto pra cá! Ansiosa com a viagem?
         - Muito! Mas eu to com um pouquinho de medo, sabe?
         - Medo? Você vai para a Califórnia, meu bem! Ai de você se nós não te vermos em algum programa de TV. Nem que seja uma pequena participação!
        Louise riu. Mas o medo ainda estava presente em seu rosto. Nancy sentiu que devia fazer algo, então se sentou perto de Louise e começou a conversar com ela.
         - Olha querida, você não tem que encarar isso como uma coisa ruim. Muito pelo contrário. É uma oportunidade que a escola está dando a vocês. Oportunidade muito boa, eu diria. Sabe, eu moro no Texas desde que eu nasci, e nunca sai do meu estado, acredita? E sabe, não é nenhum monstro de sete cabeças. Seus pais estão felizes por você. Mesmo. E estão ainda mais depois que conheceram a família que vai te adotar. Parece que é uma família muito legal mesmo. Então você tem mais é que aproveitar. Claro que vai haver saudade, mas você não vai ficar lá pra sempre. Então, curta o momento!
         - Sabe, você tem razão Nancy! E agora eu to mais curiosa ainda pra conhecer essa família!
       
        Naquele dia, Louise não foi ao teatro, nem à acaKimberlya. Ela não tinha melhorado, então Megan a levou ao médico.
         - Bom, não é nada grave. – disse o médico. – O que a Louise tem é um resfriado forte. Nada que uma vitamina C, bastante líquido e repouso não cure. Em no máximo três dias ela já vai estar bem. Até lá, é bom que ela evite esforço, e isso inclui a escola. Como hoje já é terça, acho melhor ela tirar o resto da semana de folga.
        Louise não gostou muito de ouvir isso, mas achou que pudesse conversar com a mãe quanto os ensaios do musical.
        Já estava quase na hora da janta, e Megan achou melhor nem voltar ao trabalho. Apenas ligou, explicou que sua filha estava doente e eles disseram que estava tudo bem.
       
        Assim que terminou o jantar, todos foram dormir. Sophie estava exausta por causa da natação, e não demorou a cair no sono. Megan também estava cansada, e logo que a pequena dormiu, foi para seu quarto, onde Conrad já estava dormindo. Louise estava ansiosa com a viagem. Começou a pensar no que Nancy havia falado pra ela. Mas logo adormeceu também.

domingo, 20 de março de 2011

Capítulo 2 – A novidade

 - Meninas!! E ai? Se divertiram? – perguntou Megan assim que as meninas entraram em casa.
 Louise já tinha caído na real, e estava muito feliz com tudo que tinha acontecido.
 - Mãe, foi perfeito! Ela falou comigo, mãe. Comigo! Ta vendo esse anel? Era dela. Ela me deu ele.
 - Sério, filha? Ela falou mesmo com você? – Megan ficou feliz ao ver a expressão no rosto da filha.
 - Falou! Aah, foi um dos melhores dias da minha vida!
 - Que bom filha! O que importa é que você se divertiu! Estão cansadas? Com fome?
Já eram mais de uma hora da madrugada, mas o dia seguinte (na verdade, não era seguinte, já que já tinha passado da meia-noite) era Domingo, e as meninas poderiam acordar a qualquer hora.
 - To com fome não. A gente parou numa pizzaria antes. – respondeu Julie.
 - Ah, então ta bom. Vão subir pra dormir já? – perguntou Megan.
 - Bom mãe, nós vamos subir, mas não sei se vamos dormir tão rápido!
 - É, eu imaginei! Então tudo bem, podem subir, que eu e seu pai vamos dormir. A Sophie queria esperar vocês chegarem, mas ela não aguentou.
 - Tadinha! Amanhã eu conto tudo pra ela. Vamos lá, Julie?
 - Vamos! Boa Noite tia Meg, Boa Noite tio Conrad.
 - Boa noite Julie! – responderam os dois praticamente juntos.
         - Boa Noite, mãe. Boa noite, pai. – disse Louise, dando um beijo em cada um dos pais.
         - Boa noite, filha. Dorme com Deus. – responderam eles.
               
        No dia seguinte, Louise e Julie acordaram na hora do almoço.
         - Bom dia, amiga! – disse Julie, se espreguiçando.
         - Bom dia? Já deve ser quase “Boa Noite”. – disse Louise, fazendo a amiga rir.
         - To com fome. – reclamou Julie.
         - Sério? Agora me conta uma novidade... Eu vou tomar banho antes de descer. Se você quiser, pode ir descendo...
        O quarto de Louise era uma suíte, assim como todos os quartos da casa.
         - Não... Eu tenho que tomar banho também. Posso usar o banheiro do quarto da sua mãe?
         - Pode sim, acho que não tem ninguém lá, mas se tiver, vai pro da Sophie.
         - Ta, já volto.
        As duas não demoraram muito tempo no banho. Logo que elas acabaram de se arrumar, desceram para almoçar.
         - Boa tarde pessoas! – disse Louise
         - Maninha! – Sophie foi correndo pular no colo da irmã. – A Kimberly cantou bem ontem?
         - Cantou sim, linda. Muito bem! Foi muito legal o show.
         - Bom dia filha. – respondeu Megan. – Bom dia Julie. Vocês dormiram bem?
         - Dormimos sim! – respondeu Julie. - Cadê o Conrad?
         - Ligaram pra ele do trabalho. Um cliente dele se enrolou tentando explicar porque a esposa estava com o cartão de crédito dele no dia que ela foi encontrada morta.
 - Uaaaaau. O trabalho do seu pai é muito legal. – exclamou Julie. Louise olhou para a amiga com um enorme ponto de interrogação no rosto.
- Ta né? Se você acha... – respondeu a loirinha.
         - Julie, sua mãe ligou hoje cedo. – avisou Megan.
         - Ah sim, depois do almoço eu ligo pra ela. Na verdade, depois do almoço eu vou embora.
         - Ah, já amiga? – reclamou Louise.
         - Ué, quer me adotar agora? Acho que não estou disponível... – brincou Julie.
        Louise fez cara de criança dramática, mas não funcionou.
– Bom, vamos almoçar então? Se eu to com fome, imagina a Julie! – chamou a loirinha.
        O tempo estava nublado. Não estava frio nem calor. Estava bom para... dormir! E ler. E mexer na internet. Enfim, existem várias coisas legais para se fazer em dias nublados.
        Durante o almoço, o assunto foi um só: o show do dia anterior. Megan ouvia atentamente o comentário das meninas. Ela era uma mãe muito presente.
        Quando terminaram de almoçar, Julie foi logo escovar os dentes para ir embora, mesmo contra a vontade de Louise.
         - Poxa amiga, eu to com saudade da minha mãe também, né? E ela também ta curiosa pra saber como foi o show.
         - Ta bom... Então, nos vemos amanhã?
         - Nos vemos amanhã! Eu sei que é difícil pra você ficar longe de mim, mas você consegue!
         - Hahaha, muito legal você. – respondeu Louise, sarcasticamente.
        Julie se despediu de Megan e Sophie, agradeceu pela hospedagem, mandou lembranças para Conrad, se despediu de Louise de novo, e foi embora.
         - Filha, você ta sabendo de alguma novidade que vai ter na escola? – perguntou Megan, ainda fora da casa, observando Julie ir embora.
         - Não... Acho que não. Por que?
         - Nada não... É que eu achei que fosse ter algo diferente lá esse ano. Vamos entrar então? A Julie disse que vai ligar quando chegar.
         - Ta. Eu vou navegar um pouco...
        Louise foi para o quarto e pegou o notebook. Ela estava ansiosa para colocar as fotos em seu blog, ver os comentários do show, e continuar acompanhando Kimberly.
        Quando ela entrou no Twitter, ela viu que Kimberly tinha acabado de postar. Ela tinha colocado o seguinte: “Show no Texas ontem foi o máximo. Eu amo o povo da minha cidade natal!”.
        Louise logo tratou de responder a cantora teen, mas sem nenhuma esperança de obter resposta, porque isso nunca acontecia.
        Ela escreveu o seguinte: “@ktorquato eu também achei o show de ontem maravilhoso, mas eu queria muito ter ido cantar com você no palco. Enfim, eu te amo, e você me inspira!”
        Louise passou as fotos para o computador e as estava editando. Ela tinha até esquecido do twitter. Quando ela acabou de editar as fotos, antes de postar no blog, ela foi ver se Kimberly tinha escrito mais alguma coisa, ou se alguém tinha falado com ela. E a surpresa foi grande. Kimberly escreveu uma resposta pra ela. Louise não conseguia acreditar. Ela leu e releu a mensagem várias vezes para ver se era ela mesma. Estava assim “@louisemonroe você é a menina do Mickey Mouse, não é? Que bom que você gostou do show. E não fique triste, outras oportunidades virão.”
        Louise ficou muito honrada. Imagina, seu ídola se lembra de você em um show. Isso é o máximo! Imediatamente ela ligou para Julie, mas nem precisou contar a novidade.
         - Amiga, eu vi! Que feliiiiiiiiiiiiiiz! – foi assim que Julie atendeu o telefone.
         - Ela me respondeu, Julie. Ela ME respondeu. E ela lembra de mim!
         - Pois é! Cara, que legal! Imagina quantas pessoas nesse exato momento estão morrendo de inveja de você!
         -Aaaaaaaaah, a Kimberly Torquato me respondeu hoje, falou comigo ontem! Eu só posso estar sonhando!
Louise colocou essa mesma frase no twitter, só que ao invés de Kimberly Torquato, ela colocou @ktorquato.     
         - Não ta não! Coisas boas acontecem para quem merece! 
         Elas conversaram um pouquinho e depois desligaram o telefone.
        A loirinha foi correndo espalhar a novidade pela casa.
        Durante o resto do dia, Louise ficou sonhando acordada. “Caara, ela me respondeu!”, era a única coisa que ela conseguia pensar.

        Na manhã seguinte, Louise ficou com muita preguiça de acordar para ir pra escola. Mas ela foi, firme e forte. Seu pai sempre levava ela e Sophie de carro para a escola.
         - Bom dia, Julie! – exclamou a loirinha assim que achou a amiga no pátio da escola. A escola das meninas era bem legal. Se chamava Harrington High School. Era uma escola de Ensino Médio, somente. O pátio da escola era dividido em dois. Tinha a parte coberta, que era onde ficava a cantina e as mesas e cadeiras, e a parte descoberta, que era um jardim. Era bem bonito.
         - Bom dia, amiga! E ai? Recuperada? – perguntou Julie.
         - Ah, to meio em choque ainda, mas to bem! E feliz! Demais! – respondeu a loirinha. – Bom dia Cadu.
        Carlos Eduardo, mais conhecido como Cadu, era amigo das meninas, e tinha uma queda por Julie. Cadu era alto, forte, moreno, com cabelos pretos e olhos azuis. Ele era o galã da escola, e várias meninas eram loucas por ele. Só que ele não ligava muito. Ele gostava de Julie desde pequeno, mas a menina nunca deu muito bola pra isso. Sua mãe era brasileira, por isso ele tem esse nome.
         - Bom dia sortuda! – respondeu o menino. – Fiquei sabendo dos detalhes de ontem. Que bom, cara!
         - Ah, muito obrigada, Cadu! É, realmente aquele foi meu dia de sorte.
         - Fiquei feliz por você!
         - Obrigada! E ai? Chegaram muito cedo hoje? – perguntou a loirinha.
         - Não muito. Cheguei 10 minutos antes de você. – respondeu Julie. – E o Cadu disse que tinha acabado de chegar.
         - Ah sim. Foi bem difícil sair da cama hoje. Eu estava cansada ainda.
         - Imaginei. Parece que a escola toda já sabe que a Kimbely te respondeu no twitter!
         - Sério? Vou ficar famosa! – Louise riu.
         - Mas você já é famosa aqui na escola. E na nossa cidade. Em todos os festivais de primavera você arrasa, e vira assunto por semanas. – disse Cadu.
        Eles estavam no início de Maio, e embora faltasse tempo para o festival de Primavera, que era geralmente em Setembro, os ensaios da peça do festival já havia começado. Os festivais de Primavera de Harrington High School sempre atraíam vários convidados. Tinham peças teatrais, números musicais, barraquinhas vendendo diferentes tipos de alimentos e bebidas e brinquedos para as crianças. A entrada era um quilo de alimento que era doado para o orfanato da cidade, e o dinheiro que eles arrecadavam nas barraquinhas, era doado para a igreja da cidade, que estava precisando de uma reforma.
        - Ah, por falar em festival, hoje tem ensaio, né? – perguntou a loirinha. Cadu também era do grupo de teatro, mas ele não gostava de pegar papéis com muita fala. Ele fazia apenas figuração. E gostava disso. A paixão de Cadu era mesmo o basquete. Ele jogava no time da escola, e era muito bom no que fazia.
         - Tem sim. – respondeu o moreno. – Você gostou da peça que nós vamos fazer?
         - Claro que eu gostei. – respondeu a loirinha. – Fui eu quem deu a ideia. Só que agora tenho que ir com mais frequência nas aulas de canto.
        Eles iam apresentar o musical Gypsy. No musical, eram necessárias crianças que soubessem dançar e cantar, mas como era uma escola de Ensino Médio, eles tiveram que selecionar as pessoas mais baixinhas para os papéis. Foi difícil, porque não havia tanta gente baixinha interessada no grupo de teatro, mas, com a ajuda de alguns professores desinibidos, conseguiram montar o elenco.
        Louise seria Louise, uma das personagens principais. Ela tinha gostado de interpretar uma personagem com o seu nome. E ela tinha que saber cantar. Ela já fazia aulas de canto, e agora, ia ter que praticar mais. Ela estava realmente feliz com o papel.
         - E você? Gostou? – perguntou a loirinha.
         - Ah sim, claro! Adorei meu papel. – respondeu ele. Cadu seria um jornaleiro. Ele não tinha muitas falas, mas ele ia ter que cantar, juntamente a outros garotos da trama.
        O sinal tocou e todos os alunos foram para as suas respectivas salas. Louise, Julie e Cadu estavam no terceiro (e último) ano do Ensino Médio. Eles haviam estudado juntos desde sempre. Bridges Ville não era um bairro muito grande, então a maioria dos moradores já se conhecia desde muito tempo. E como os três moravam lá desde que nasceram, se conheceram logo.
        A primeira aula era de Português, com a professora e também coordenadora Cathy Elliot. Cathy já havia passado dos quarenta, e ainda estava solteira. Ela era um amor de pessoa, mas geralmente estava de mau - humor. Os alunos costumavam dizer que era falta de namorado!
        Nesta manhã, a Sra. Cathy parecia estar animada. Ela usava o jaleco da escola, que cobria quase o corpo todo, mas dava pra perceber que por baixo do jaleco tinha um suéter vermelho e uma calça jeans. Ela sempre usava suéteres.
         - Bom dia, turma. – disse ela assim que colocou seu material na mesa.
         - Bom dia, professora Elliot. – respondeu a turma em coro. Louise achava a maior “cafonisse” responder todos os professores, coordenadores e o diretor em coro. Mas essa uma das regras da escola.
         - Bom, antes de começarmos a aula, eu tenho um comunicado muito importante pra fazer pra vocês. – falou a professora.
         - As férias vão ser prolongadas esse ano? – perguntou Joseph, um engraçadinho que era conhecido na turma por sempre fazer piadinhas.
         - Receio que não, Sr. Kyle. Mas o que tenho a informar é algo muito importante, e suponho que vá despertar o interesse de todos. – respondeu Sra. Elliot.
         - Bom, como todos vocês sabem, no início do ano letivo tivemos uma reunião com todos os pais e responsáveis. E informamos que esse ano estávamos querendo fazer algo diferente com o terceiro ano. Como muitos de vocês nasceram aqui e não tiveram a oportunidade de conhecer os outros estados que formam o nosso país, decidimos fazer uma espécie de intercâmbio com vocês. Esse programa consiste em mandar vocês para casas de outras famílias em outros estados. Como o nosso país possui cinquenta estados, e vocês são quarenta e cinco, dá perfeitamente para cada um ir pra um estado diferente. – a professora deu uma pausa, respirou, olhou para a turma e continuou. – Vocês iriam para as casas de suas respectivas famílias adotivas assim que começassem as férias de inverno, em Junho. Lógico que vocês não iriam parar de estudar, suas matrículas em outras escolas seriam feitas. Na verdade, já foram. Já temos tudo decidido, os pais de vocês já concordaram e já até têm contato com as famílias que vão adotá-los. Só falta vocês dizerem se aceitaram ou não. Os que não quiserem, vão ter aulas aqui no Harrington High School normalmente.
         Frida Heart, uma menina ruiva, com cabelos compridos e que usava óculos, levantou a mão.
         - Pois não, Sra. Heart? – perguntou a professora, gentilmente.
         - Por quanto tempo vamos ficar longe das nossas famílias? – perguntou a menina com um olhar assustado.
         - Bom, a início, seis meses. Mas está quase certo que o programa vai ser prolongado para um ano. Vocês voltariam para passar o Natal e o Ano Novo com a família de vocês, e depois ficariam por lá mais um tempo.
         Frida não pareceu muito animada com a ideia. Ela era do tipo nerd – esquisita – excluída, que dependia da mãe pra tudo e não tinha facilidade nenhuma para fazer amigos.
        A maioria dos alunos, inclusive Louise, pareciam ter adorado a ideia.
         - Bom, alguém aqui tem alguma dúvida? – quis saber a professora.
        Louise levantou a mão.
         - Sim, Sra. Monroe?
         - Sra. Elliot, como foi feita a escolha das famílias que vão adotar a gente? – quis saber a loirinha.
         - Bom, nós nos inscrevemos em um programa de intercâmbio, procuramos por famílias de todos os estados daqui, e vimos, juntamente aos pais de vocês, em quais vocês se habitariam melhor. Deu muito trabalho fazer isso sem que vocês percebessem, mas pelo que vi ninguém aqui sabia de nada. E receio dizer, Sra. Monroe, que seus pais só vão conhecer a sua família hoje. A família anterior tinha muitos animais de estimação, sua mãe ficou com medo de você ter muitas crises alérgicas e decidiu procurar outra família.
         - Que legal, então eu vou conhecer a família que vai me adotar junto com meus pais! – comemorou Louise.
         - Suponho que não. Nenhum de vocês vai poder ter contato algum com a família que vão adotá-los. Queremos fazer uma espécie de surpresa. Nesse caso, vocês vão ter que confiar nos pais de vocês. Eles escolheram a família. E tem mais uma coisa. O festival de primavera vai ser em Dezembro, quando vocês voltarem. Ou seja, vai ser festival de Verão. Mais um desafio pra vocês: vão ter que organizar tudo a distância. Eu aconselho a fazerem logo tudo que têm que fazer juntos antes de irem. Depois, vocês podem ir se comunicando por e-mail, telefone... Bom, sei que com isso vocês não vão ter problema.
         Joseph levantou a mão, mas antes de esperar a professora perguntar o que ele queria, foi logo falando.
         - Mas professora, e se eu quiser ir embora? E se eu não gostar da minha família? – perguntou ele.
         - Bom, vocês têm total liberdade pra pedirem pra voltar. Lembrando que vão continuar os estudos aqui. Se o programa durar um ano, não será obrigatório para todos ficarem até o final, pois só falta praticamente um semestre para o ano letivo acabar. Mas seria muito interessante se vocês ficassem, pois aprender a cultura de outros estados, aprender a conviver com pessoas diferentes é muito importante para a vida social de qualquer um.
        Foi a vez de Julie fazer sua pergunta agora.
         - Pois não, Sra. Cooper?
         - Professora, qual é o objetivo disso tudo?
         - Como já disse anteriormente, aprender mais sobre as diferentes culturas do seu país e conviver com pessoas diferentes é muito importante. Também é importante pra torná0los independentes. E isso também vai servir para muitas outras coisas, que vocês só vão descobrir quando terminarem.
         - Que tipo de coisas? – perguntou Julie.
         - O valor que a família de vocês têm. Os jovens hoje em dia não ligam pra família. Não todos, é claro, mas a maioria prefere sair com os amigos a irem ao aniversário da avó. Não os culpo, pois já fui adolescente e sei como é isso. Mas talvez, ficar um tempo longe vai fazer vocês sentirem o quanto precisam deles.
        Louise sabia que isso foi para a maioria dos meninos e para meninas como Amber Shiner. Amber era do tipo de menina rica e bonita que explorava seus pais o máximo que podia. Como era filha única, eles faziam tudo por ela, mas ela nunca reconhecia, e pra ela, nenhum esforço deles era suficiente, ela estava sempre exigindo mais. E quanto aos meninos, bem, a maioria só queria saber de festa nos finais de semana, e mal conversavam com os pais.
        Para Louise, sua família era sagrada. Era nela que ela encontrava a força que precisava para correr atrás de seus sonhos.
         - Professora? – chamou a loirinha.
         - Sim, Louise.
         - A Sra. já tem os estados de cada um, não tem?
         - Sim! E vou dizê-los agora mesmo. Mais alguma dúvida?
        Nenhum barulho. Todos estavam ansiosos para saberem onde iriam ficar.
         - Então vamos aos lugares. Vou falar em ordem alfabética. – disse a professora. – Amber Shiner, Carolina do Sul.
        Amber fez uma cara horrível ao ouvir isso.
         - O que? Aquele lugar não tem nada. É uma roça. Eu não posso ir pra lá. – reclamou a menina.
         - Bom, reclame com seus pais então. Eles escolheram. E como a seleção foi feita em ordem alfabética, seus pais foram os primeiros a escolher. Não pode dizer que foi por falta de opção que escolheram esse lugar. – falou a professora. – Continuando. Alice Finkle, Kentucky.
        Na maioria das vezes, as caras das pessoas eram de felicidade quando a professora dizia a cidade em que iriam ficar. Obviamente porque os pais sabiam onde os filhos gostariam de passar um tempo.
Louise se distraiu tentando imaginar o estado que seus pais escolheram, e quando caiu na real, já estava na letra “J”.
         - Julie Cooper, Flórida.
        Julie comemorou. Era queria muito ir pra Disney.
         - Lewis Tompson, Iowa.
         - Louise Monroe, Califórnia.
        “Hollywood!”, foi a primeira coisa que a loirinha pensou antes de dar um gritinho de alegria.

        Quando chegou no intervalo, Louise, Julie e Cadu sentaram juntos e começaram a conversar sobre a novidade.
         - Cadu, você vai pra onde mesmo? – perguntou Louise.
         - Oregon. Bem perto da Califórnia. – disse ele com um sorriso.
         - Pois é! – comemorou a loirinha. – Mas ambos ficam muito longe da Flórida. – falou agora com um certo tom de tristeza.
         - Ah, mas a família de vocês TEM que levá-los na Disney! Então é só vocês me avisarem quando forem pra eu ir também!
         - Com certeza avisaremos – disse a loirinha. – Mudando de assunto, vamos ter que pegar pesado nos ensaios agora. E eu quero ver como vou fazer com as aulas de canto. Se a família não gostar de cantoria eu to ferrada.
         - Calma! Eles vão gostar sim. Quem é que não gosta de música? – Cadu tentou tranquilizar a amiga.
         - De música bem cantada, todo mundo. Mas de música cantada por mim... Bem, ai já é outra história!
        Os três riram. Passaram todo o intervalo conversando. Julie estava comendo a sua famosa empadinha de frango de todos os dias. Quando eles menos esperavam, o sinal tocou, informando o fim do intervalo.   
        Durante o restante da aula, o assunto não foi outro: o intercâmbio. Os outros professores até tentaram manter a calma da turma, mas todo esforço foi em vão. Ali era um contra quarenta e cinco, não tinha como ganhar, então os professores acabaram entrando no assunto e deram conselhos para os alunos.